Gêmeos passam por transplante de rins do mesmo doador no RS: ‘nunca tinha visto’, diz médico

Os irmãos Rogério e Ronaldo Berenstein, de 60 anos, estão acostumados ao ato de compartilhar: dividiram o mesmo útero antes de nascer, possuem o código genético quase idêntico, estudaram nas mesmas escolas, trabalharam juntos em uma empresa e foram sócios.

Gêmeos idênticos (ou univitelinos, em termos técnicos), eles voltaram a passar por uma experiência juntos em 18 de fevereiro, no Hospital São Lucas, em Porto Alegre: no mesmo dia, cada um dos irmãos passou por um transplante de rim. E mais: os dois órgãos vieram do mesmo doador.

“Trabalho há mais de 20 anos na área e nunca tinha visto dois irmãos recebendo órgãos do mesmo doador ao mesmo tempo. É o primeiro caso deste tipo que aconteceu no hospital, e provavelmente não vamos ter de novo”, conta Marcelo Hartmann, chefe do serviço de transplantes do hospital um dos médicos que participou do processo.

O médico explica que o fato de Rogério ter tido o problema alertou Ronaldo para a quase certeza de que teria que enfrentar a doença logo em seguida. Como têm código genético quase idêntico, é esperado que sejam acometidos por patologias de origem genética semelhantes.

No entanto, Hartmann explica que Rogério e Ronaldo tinham quadros diferentes: Rogério já estava há dois anos e quatro meses na fila do transplante e realizava hemodiálise semanalmente. Já Ronaldo passava por um tratamento mais conservador, lidando com a doença apenas com exercícios físicos e boa alimentação. Ele conseguiu entrar na fila do transplante em dezembro, após mudança na regulamentação que permitiu o transplante para pessoas que não fazem hemodiálise.

“Na noite que me ligaram para fazer a oferta do rim, eu fiquei muito surpreso. Porque eu não passei por todo o processo que o Rogério passou. Ele já foi chamado cinco vezes para um possível transplante, mas chegava na hora e não era contemplado. Eu recebi a ligação e, de repente, deparei com o transplante na minha frente. Foi tudo muito rápido”, comemora Ronaldo.

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Os irmãos passaram pelo processo praticamente juntos: quando um estava na sala de cirurgia, o outro já estava sendo preparado para o procedimento. Tudo foi feito no mesmo dia, com a mesma equipe. Primeiro, Rogério. Depois, Ronaldo. O que gerou um misto de emoções na dupla: esperança na recuperação, ansiedade pela cirurgia e conforto graças à companhia do irmão.

“Ajuda. Sem dúvida, ajuda. Nesse momento do transplante, a presença de um junto do outro representa segurança, tranquilidade, porque ao longo dos anos o nosso convívio é de proximidade”, diz Ronaldo.

Rogério concorda:

“Eu colocaria nas mesmas palavras. Temos uma vida inteira juntos, trilhando o mesmo caminho e compartilhando os momentos mais variados, bons e ruins”, diz.

Os irmãos aproveitam o momento de recuperação para ressaltar a importância da doação de órgãos. Neste caso, foram duas vidas salvas:

“Quero fazer uma referência a uma família que não conhecemos e talvez nunca vamos conhecer, mas que teve a grandeza, o gesto de amor de doar e tornar melhor a vida de outras pessoas. Um momento de dor, que a gente compreende. A nossa gratidão eterna a essa família e o nosso lamento pela perda do ente deles. Que as pessoas reflitam sobre o que representa um órgao pra quem está precisando”, emociona-se.

Fonte: G1

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