“Júri não tem vencedores, é tristeza para os dois lados”, destaca Jean Severo
Na semana em que o incêndio na Boate Kiss completa dez anos, o advogado Jean Severo, que teve participação destacada no processo, falou para o Portal Arauto sobre os bastidores do julgamento que ganhou destaque em todo o Brasil. O fogo que atingiu a casa noturna de Santa Maria em 27 de janeiro de 2013 provocou a morte de 242 pessoas e deixou 636 feridos.
Com temperamento forte, Jean representa Luciano Bonilha Leão, produtor da banda Gurizada Fandangueira. Para o advogado, é impossível citar uma parte vitoriosa em julgamentos como o que parou o Rio Grande do Sul em dezembro de 2021. “Eu falo sempre que júri não tem vencedores, é tristeza para os dois lados. Alguém perdeu um ente querido e, do outro lado, tem alguém pode perder a liberdade”, destacou.
A preparação de Severo para o julgamento dos quatro acusados, que durou dez dias, teve início cerca de dois meses antes de a equipe entrar no Foro Central de Porto Alegre. As 19,1 mil páginas do processo impressionaram quem acompanhou a transmissão do Tribunal de Justiça e dão a dimensão da complexidade do caso.
Segundo o advogado, a cobertura excessiva dos veículos de comunicação e o televisionamento dos júris trazem prejuízos para os réus. “Eu não tinha uma opinião formada, mas, depois de fazer alguns plenários com transmissão ao vivo, digo que sou contra. O jurado fica muito pressionado. É uma exposição gigantesca. Esses julgamentos midiáticos são prejudiciais ao acusado”, falou.
Questionado se Tribunal do Júri é justo, Jean disse que, para ele, sim. “Nós temos uma média de 52% de absolvições. Eu acho que consegue se colocar no lugar do acusado e fazer justiça. No júri sem transmissão, o réu tem muito mais chance ser absolvido”, explicou. O acusado tem o futuro definido por sete jurados, pessoas da comunidade, em crimes que agridem um dos bens jurídicos mais importantes – a vida humana.