Em uma rua tranquila no bairro de Campo Grande, no Rio de Janeiro, Bruna Campos, de 35 anos, apresenta o filho Thalysson Barbosa, adotado aos 13 anos, em abril deste ano. Thalysson era uma das mais de 5 mil crianças e adolescentes à espera de uma família, segundo dados do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Graças ao programa Busca Ativa Nacional, Bruna e seu marido, Marlon Barbosa, conheceram Thalysson e decidiram expandir o perfil desejado para a adoção, incluindo a chamada “adoção tardia”.
A Busca Ativa Nacional, medida do CNJ, permite que famílias cadastradas acessem fotos, vídeos e informações de crianças e adolescentes que enfrentam maior dificuldade para adoção. Em 2024, cerca de 9% das adoções foram realizadas por meio desse programa, envolvendo 307 dos 3.409 casos de adoção concretizados.
Aumento do perfil desejado para adoção
Bruna e Marlon participaram do Grupo de Apoio à Adoção Cores da Adoção, onde passaram a considerar a adoção de crianças mais velhas. A partir da divulgação de perfis na Busca Ativa, decidiram conhecer Thalysson. O processo de aproximação durou meses, com visitas semanais e saídas supervisionadas. Em julho, o adolescente pôde passar uma semana com o casal, e, posteriormente, foi concedida a guarda. “Hoje, minha família está completa. Não consigo lembrar como era sem ele aqui”, afirma Bruna.
Perfil das crianças no sistema de adoção
A maioria das crianças no sistema de adoção são meninos negros, com mais de 5 anos, filhos de mães solo e provenientes de famílias vulneráveis. Dos 5.049 jovens no sistema, 54% são meninos e 69,5% são negros. Na Busca Ativa, 72,1% das crianças e adolescentes são negros, dos quais 52,3% se identificam como pardos e 19,8% como pretos.
A faixa etária e a presença de irmãos também influenciam na adoção. Cerca de 3.085 crianças no sistema geral possuem irmãos e, na Busca Ativa, 14,4% das crianças têm algum tipo de deficiência intelectual ou física.
Desafios e preferências dos adotantes
No Brasil, existem 35.631 pretendentes à adoção, sendo a maioria casais. Grande parte deseja crianças com até 8 anos de idade e sem deficiência. A preferência por meninas, crianças brancas ou pardas, e a busca por traços físicos semelhantes aos dos adotantes são apontadas como fatores que dificultam a adoção de perfis fora desse padrão.
“Esses jovens acabam sofrendo com o sentimento de rejeição e abandono, especialmente ao verem outras crianças serem adotadas,” explica a psicóloga Lygia Santa Maria Ayres, da Universidade Federal Fluminense. Quando chegam aos 18 anos, muitos são desligados do sistema sem apoio suficiente para enfrentar a vida adulta, muitas vezes com pouca escolaridade e sem perspectivas.
Necessidade de políticas públicas
A professora Lygia Ayres defende a importância de políticas públicas que ofereçam apoio a mães em situação de vulnerabilidade, com acesso a creches e empregos, visando reduzir a quantidade de crianças entregues a abrigos.