Uma frente fria vai trazer chuva preta para o Rio Grande do Sul hoje e amanhã com a instabilidade do sistema frontal ocorrendo com a atmosfera tomada por uma grande quantidade de fumaça resultante das queimadas no Brasil e nos países vizinhos, prevê a MetSul Meteorologia.
O tempo já começou a mudar no estado gaúcho por conta do sistema frontal e várias regiões registraram chuva e garoa durante a madrugada desta quinta-feira. Choveu mais em cidades do Oeste e do Sul gaúcho, por onde começa a ingressar a frente fria.
Chove na manhã desta quinta em grande parte do estado, especialmente em cidades do Oeste, do Centro e do Sul gaúcho. Nas demais regiões, onde a chuva chega mais tarde no dia, muitas nuvens e abundante presença de fumaça com odor muito perceptível de vegetação queimada.
No decorrer do dia, a frente fria avança pelo Rio Grande do Sul e leva chuva até o fim do dia para quase todo o estado. Por isso, o tempo deve se instabilizar com chuva ao longo da quinta-feira em Porto Alegre e região metropolitana com mais chuva da tarde para a noite.
Ao avançar pelo território gaúcho, a frente pode provocar chuva moderada a forte em diversos pontos e há um risco baixo de tempo severo, de forma que não se pode afastar a possibilidade de alguns temporais isolados com raios e, sobretudo, queda de granizo localizada.
Amanhã, o tempo segue instável no Rio Grande do Sul pela influência da frente e ainda se espera chuva na maioria das regiões. A instabilidade será maior na Metade Norte, onde em alguns pontos pode chover por vezes forte com trovoadas e ocasional queda de granizo.
Onde a frente fria pode provocar chuva preta
A avaliação da MetSul Meteorologia é de que todas as regiões do Rio Grande do Sul podem ter registro de chuva preta entre hoje e amanhã durante a atuação da frente fria. Isso porque todo o estado está coberto de fumaça com material particulado em grande quantidade na atmosfera.
Os mapas a seguir mostram a projeção de chuva para hoje e amanhã do modelo Icon, do serviço meteorológico da Alemanha. Como se vê, a chuva atinge hoje a maior parte do Rio Grande do Sul e pontos de Santa Catarina. Amanhã, será maior a chuva na Metade Norte gaúcha e em partes de Santa Catarina e do Paraná.
Já os mapas abaixo mostram a projeção de concentração de aerossóis por fumaça na manhã, tarde e noite desta quinta-feira com base em dados do modelo de dispersão CAMS (Copernicus Atmosphere Monitoring Service), que pode ser consultado gratuitamente e a qualquer hora aqui no site da MetSul.
Os dados do modelo indicam que a maior concentração de fumaça, e em níveis muito altos nesta quinta-feira, vai se dar na Metade Norte do Rio Grande do Sul. Assim, embora se antecipe que possa cair fuligem junto com a chuva em todas as regiões gaúchas, a maior probabilidade de ocorrência da chamada chuva preta é em cidades do Centro para o Norte gaúcho, o que inclui Porto Alegre e região metropolitana.
O que é chuva preta
Soot, ou fuligem, é um material particulado constituído principalmente de carbono, que se forma como resultado da combustão incompleta de materiais orgânicos, como combustíveis fósseis (carvão, petróleo) e biomassa (madeira, resíduos agrícolas).
Quando esses materiais não queimam completamente, em vez de se transformarem inteiramente em dióxido de carbono (CO₂) e vapor de água, eles produzem partículas finas de carbono negro e outros compostos. Essas partículas são extremamente pequenas, com diâmetros na escala de nanômetros a micrômetros, o que lhes permite permanecer suspensas no ar por longos períodos e viajar grandes distâncias.
Fuligem e a chuva preta estão intimamente relacionados. A chuva preta é um fenômeno que ocorre quando a fuligem e outras partículas contaminantes presentes na atmosfera se misturam com a umidade e precipitam sob a forma de chuva.
Esse tipo de chuva, que não necessariamente se precipita com cor preta, é indicativo de altos níveis de poluição, e geralmente é observada em locais próximos a áreas industriais, queimadas ou onde há intensa queima de combustíveis fósseis.
Quando as partículas de fuligem se misturam com a umidade nas nuvens, elas podem agir como núcleos de condensação, em torno dos quais as gotas de água se formam. Isso resulta em uma chuva contaminada com poluentes, que ao cair no solo pode afetar corpos d’água, solos e vegetação.
A chuva preta tem impactos visíveis no ambiente urbano. Ela pode deixar uma camada de sujeira nas superfícies, como prédios, veículos e infraestrutura, o que pode levar à degradação dos materiais e aumentar os custos de manutenção. A relação entre fuligem e chuva preta é um indicador preocupante dos níveis de poluição atmosférica em muitas partes do mundo.
Corrente de jato traz fuligem e favorece fenômeno
A grande quantidade de fumaça que está chegando ao Rio Grande do Sul é trazida por uma corrente de jato em baixos níveis da atmosfera que avança pelo interior da América do Sul a Leste dos Andes e transporta o material particulado até as latitudes médias do continente.
Em termos leigos, a corrente de jato em baixos níveis é uma corrente de ar estreita encontrada na baixa atmosfera, normalmente em torno do nível de pressão de 850 hPa (ou cerca de 1500 metros de altitude), atuando entre um e dois quilômetros de altura.
Ou seja, é um corredor de vento nas camadas baixas da atmosfera. Tal como as principais correntes de jato, as polares e subtropicais, são “rios” na atmosfera, embora em menor escala e geralmente em velocidades mais lentas.
Estas correntes de jato em baixos níveis (JBN) a Leste dos Andes que trazem ar quente costumam se originar na Bolívia ou no Centro-Oeste do Brasil e apresentam, em regra, uma extensão de milhares de quilômetros do Sul da região amazônica até a bacia do Rio Prata. No Prata ou no Rio Grande do Sul, o jato costuma recurvar em direção a Leste para o Atlântico.