A cada final, uma medalha. E a cada nova conquista, um degrau a mais no hall dos maiores nomes da história do esporte olímpico brasileiro. Neste sábado, na Arena Bercy, Rebeca Andrade voou para ser vice-campeã olímpica do salto, atrás apenas do fenômeno americano Simone Biles. Um resultado que a eleva ao seletíssimo grupo de lendas do país com cinco medalhas nos Jogos Olímpicos, ao lado dos velejadores Robert Scheidt (dois ouros, duas pratas e um bronze) e Torben Grael (dois ouros, uma prata e dois bronzes).
“Poder representar isso é um orgulho, ser referência é algo que eu vou levar pra sempre comigo. Como a gente vê o Senna, como a gente vê vários esportistas que a gente pensa assim: “caramba, ele foi gigante, olha como ele me inspira, olha como ele age, olha como ele falou, olha como ela fez, olha como ela é” Essas são coisas que ninguém vai tirar da gente, faz parte da gente, sabe? Então, quando alguém olha pra mim e fala “cara, eu assisti você e eu senti isso, a minha filha te adora, e meu sobrinho fez isso, aquilo, o outro” chega a arrepiar, assim, sabe?”, contou Rebeca.
Além da prata deste sábado, Rebeca foi vice-campeã olímpica do individual geral e bronze por equipes em Paris 2024. Em Tóquio 2020, ela foi campeã do salto e vice do individual geral. Vale lembrar que ela ainda disputa outras duas finais na segunda-feira (5) e pode ultrapassá-los: trave e solo.
Rebeca entrou na Arena Bercy como então campeã olímpica do salto, uma das provas nas quais Biles não competiu no Japão por questões de saúde mental. A expectativa, no entanto, estava muito mais nos ombros da americana, que nas classificatórias, na final por equipes e do individual geral executou o Biles II, de dificuldade 6.4.
Na final do aparelho, as oito finalistas saltam duas vezes, e a nota final é a média das apresentações. Biles cumpriu seu papel e, com o Biles II e um Cheng, obteve média de 15.300, que lhe rendeu o ouro da prova. O bronze ficou com outra americana, Jade Carey.
“Eu acho que eu nunca imaginei ganhar tantas medalhas numa Olimpíada. Eu queria muito ser medalhista, sonhava e coloquei como objetivo ser medalhista, mas eu não imaginava ter tantas medalhas assim. Então eu agradeço muito a minha equipe multidisciplinar, o meu treinador, a minha família que permitiram que essas coisas acontecessem, sabe? Se fosse por mim mesmo algumas vezes eu já teria desistido. Então por conta deles eu estou aqui e os meus sonhos, meus objetivos estão sendo alcançados e estou ficando gigante, né? Isso é muito legal do meu tamanho (risos)”, disse Rebeca.
Apesar das perguntas insistentes sobre a possível execução de um Triplo Twist Yurchenko, que poderia ser batizado de Andrade, Rebeca indicou em todas as entrevistas que deveria adotar uma estratégia mais conservadora. E assim o fez. Apostou na qualidade de sua execução em saltos nos quais tivera sucesso anteriormente.
A brasileira, sexta na ordem de apresentação, escolheu um Cheng, sua principal bola de segurança e de dificuldade para 5.6 abrir a série. Depois, seguiu com um Amanar (que fez no treino de pódio, mas não executava desde Tóquio em competições oficiais e de dificuldade 5.4) para fechar.
No Cheng, a ginasta faz uma entrada de rodante (popularmente conhecido como estrela), uma meia volta até se impulsionar na mesa de frente e executar uma pirueta e meia na segunda fase do voo, até aterrissar no colchão. Rebeca recebeu 9.500 de execução, alcançando 15.100 no primeiro salto.
No Amanar, a ginasta faz uma entrada de rodante e chegada na mesa de costas, seguindo com duas piruetas e meia no voo até finalizar de frente para o aparelho. Rebeca novamente foi espetacular. Recebeu 9.433 de execução, chegando a 14.833 no salto e 14.966 de média entre os dois. Foi a segunda melhor marca da noite, um novo brilho prateado para alçar a paulista ainda mais alto entre os gigantes da ginástica artística e do esporte olímpico brasileiro.