Os governos do Rio Grande do Sul e da Holanda, por meio do Escritório de Apoio aos Negócios no Brasil, estiveram reunidos, na tarde desta quinta-feira (6/6), para debater a maior enchente da história do Estado e promover uma troca de conhecimento entre as equipes técnicas. O grupo foi recebido pelo governador Eduardo Leite, pela secretária do Meio Ambiente e Infraestrutura, Marjorie Kauffmann, e pelo secretário da Reconstrução Gaúcha, Pedro Capeluppi, no Centro Administrativo de Contingência (CAC), em Porto Alegre.
A iniciativa da reunião integra o Plano Rio Grande, programa de reconstrução, adaptação e resiliência climática do Estado que visa planejar, coordenar e executar ações para enfrentar as consequências sociais, econômicas e ambientais.
“Estamos determinados a promover a reconstrução do Rio Grande do Sul e estabelecer um robusto plano de resiliência e adaptação climática para o futuro do Estado. Importante que tenhamos todo o assessoramento técnico possível para fazer investimentos de forma assertiva”, afirmou Leite.
O governador apresentou os dados das enchentes de maio, que atingiram 477 municípios gaúchos de um total de 497. Cerca de dois milhões de pessoas foram afetadas, direta ou indiretamente. Aproximadamente 80 mil pessoas chegaram a ficar em abrigos, e 172 perderam a vida.
A ideia é trabalhar com um plano mais abrangente e, a partir dele, desenvolver projetos específicos. “Um estudo amplo, denso e consistente, não apenas com percepções, mas com um plano efetivo de intervenções. A nossa responsabilidade não será só para reconstruir, mas para executar as melhores práticas com respeito à ciência, utilizando os instrumentos mais modernos para proteger as cidades”, frisou o governador.
O grupo de técnicos holandeses ficará no Rio Grande do Sul pelos próximos dias. A ideia é estudar as realidades e acessar os bancos de dados disponíveis para, então, sugerir um caminho de cooperação. O início dos trabalhos terá como foco a cidade de Porto Alegre, mas o pedido do governo estadual é para que os técnicos possam olhar para todas as regiões do Estado e suas bacias hidrográficas.
“O Estado busca definir grandes diretrizes de amortecimento dos efeitos sobre as bacias a fim de beneficiar todas as regiões. A reconstrução pretende se pautar sobre novos patamares, e entendemos que a Holanda tem essa expertise”, destacou Marjorie.
Os técnicos do Departamento de Recursos Hídricos e Saneamento da Secretaria do Meio Ambiente (Sema) apresentaram a atual estrutura de monitoramento do Estado, as peculiaridades de relevo, os efeitos das chuvas sobre as três bacias hidrográficas (do Uruguai, do Guaíba e do Litoral), e a influência dos ventos nas enchentes.
“Na Holanda, sofremos com as cheias e temos de investir cada vez mais por causa das mudanças climáticas. Compartilhamos não só os desafios, mas também o modo sobre como lidar com eles”, afirmou o cônsul-geral dos Países Baixos no Estado de São Paulo, Wieneke Vullings.
“Um dos nossos objetivos será garantir o planejamento integrado com as soluções possíveis, mantendo a coesão de todas as iniciativas. Vamos fazer a reconstrução de forma mais resiliente e adaptada, olhando todos os aspectos que precisam ser analisados. Essa é uma das inspirações que buscaremos na Holanda para aplicar no Estado”, disse Capeluppi.
Room for the River
Na década de 1990, parte dos Países Baixos sofreu graves danos causados por inundações. No ano de 2007, o governo holandês iniciou o desenvolvimento do programa Room for the River (“espaço para o rio”, em tradução livre). Segundo o governo da Holanda, o programa tornou-se o ponto de partida para uma abordagem de proteção contra enchentes nas zonas fluviais.
Em mais de 30 locais, foram tomadas medidas para dar espaço ao rio, promovendo uma inundação segura. O principal objetivo foi gerir níveis mais elevados de água – realocando diques, aumentando a profundidade dos canais e construindo desvios de inundação. O programa abrangeu quatro rios: Reno, Mosa, Waal e IJssel.