Comercial Casa Boito: um presente à centenária Nova Prata
Edifício contemporâneo é pioneiro na preservação de fachadas históricas
Quem caminha pelo largo da prefeitura municipal e admira a moderna construção e seu belo jardim vertical nem precisa forçar a memória para lembrar de um dos primeiros e mais importantes comércios da cidade. A velha Casa Boito, sua imponência e sua história ainda estão ali, intactas, mas, agora, revestidas de contemporaneidade e adequadas ao novo cenário urbano.
Oficialmente inaugurado no último dia 03, o Comercial Casa Boito é agora um edifício de dez pavimentos, com 44 salas comerciais, cafeteria e memorial. Um projeto pioneiro e ousado, encabeçado pela Postal Engenharia e Construção, que buscou, na experiência de outros centros urbanos, a expertise necessária à concretização do empreendimento.
“Manter a originalidade das fachadas das antigas construções foi um enorme desafio, não somente pela questão estrutural da obra, mas também e principalmente pela representatividade histórica dessas casas junto à comunidade pratense”, relata David Postal, sócio-diretor da Postal Engenharia. “Não estávamos falando apenas de tijolos e concreto, falávamos na preservação de uma parte importante da nossa vivência enquanto munícipes”, conclui.
Foram muitos parceiros e colaboradores envolvidos até que se pudesse chegar ao resultado final: engenheiros, arquitetos, construtores, colaboradores, prestadores de serviço, autoridades públicas, proprietários, investidores. Dezenas de pessoas que acreditaram no empreendimento e à sua maneira, ajudaram a dar vida nova à querida Casa Boito. “Desde a concepção do projeto, a comunidade e o empresariado pratense se mostraram parceiros à nossa ideia. Tanto que as 44 salas comerciais foram vendidas em apenas 22 dias. Um sucesso que nos motivou a tocar a obra mesmo enfrentando, no meio dela, uma pandemia”, relembra Cleverton Toscan, também sócio-diretor da Postal.
Muito mais do que preservar as fachadas originais dos prédios – Casas Boito e Tarasconi – da cafeteria ao pequeno memorial, tudo foi minuciosamente pensado para resguardar e exaltar a memória dos antepassados, trazendo, ao mesmo tempo, a modernidade, a beleza e o conforto necessários para quem escolheu fazer do Comercial Casa Boito a nova morada de seus projetos e empreendimentos.
No ano de seu centenário, Nova Prata recebe, renovada, uma parte importante da sua história, que, graças ao empreendedorismo de hoje, permanecerá viva e sólida para as futuras gerações.
Um pouco da história
Foi lá, nos remotos anos 30, que a história da Casa Boito começou a ser escrita pelas mãos de Antônio Berto Boito, ou Antonio Boito Sobrinho, como costumava assinar em referência ao tio que lhe ensinou o ofício de armeiro. Alfredochavense de nascimento, foi na então localidade do Prata que Antonio constituiu família. Com a esposa, Maria Adelina Tarasconi, teve seis filhos.
Dedicou-se, primeiramente, à construção da casa do sogro, Clemente Tarasconi. Homem inteligente e articulado que participou ativamente do movimento emancipacionista de nossa cidade e a quem coube a nobre tarefa de buscar, junto ao então superintendente do estado, Borges de Medeiros, a tão sonhada carta de emancipação.
A casa Tarasconi, cuja fachada também foi preservada no Comercial Casa Boito, logo transformou-se em local de reuniões e encontros importantes. Recebia políticos e visitantes de outras localidades, chegando a hospedar o Governador Meneghetti em uma visita à cidade na década de 50.
Um ano após a construção da Casa Tarasconi, já em 1939, Antonio Boito conclui a própria casa, composta por dois pavimentos. Inicialmente, no andar superior, o prédio abrigou o Fórum da Comarca da cidade. No primeiro piso, a loja da família. Nos fundos, Antonio residia com a mulher e os filhos e era lá, também, que estava instalada a sua oficina de armas.
Inquieto e inovador, estabeleceu na Casa Boito, além da fabricação e do comércio de armas, cuja qualidade aprimorada pelos estudos lhe rendeu o convite para trabalhar como armeiro do exército, o comércio de joias e relógios de ouro, livros, materiais para escritório, instrumentos musicais, roupas, entre outros artigos. Foi o primeiro comerciante da cidade a realizar a importação de produtos de países como Estados Unidos, França e Bélgica. Deixou, ao final de uma vida dedicada ao empreendedorismo inovador, um legado de admiração, não apenas pela qualidade dos produtos que comercializava, mas pelo trabalho árduo, honesto e visionário que tanto contribuiu para a consolidação da economia e da sociedade pratense.