Pomares de laranjas e bergamotas; safras de soja, milho, feijão e arroz; pastagens e criações de bovinos, ovinos, peixes e abelhas: as perdas sofridas pelos produtores rurais gaúchos em virtude da tragédia meteorológica estão sendo contabilizadas aos poucos. De norte a sul do Estado, a alta umidade do solo é a principal responsável pelos prejuízos, direta e indiretamente, de acordo com o Informativo Conjuntural da Emater/RS-Ascar, divulgado na quinta-feira (30/5).
No caso dos citros, as plantações de laranja e bergamota têm apresentado frutos pequenos, com rachaduras na casca, aumentando as perdas e reduzindo a produtividade. Muitos frutos também foram afetados por doenças, que causaram estragos. Na região administrativa da Emater de Santa Rosa, há incidência de ataques de mosca-das-frutas nos pomares. As variedades de bergamota Okitsu, Ponkan, Satsuma e comum, que estão em fase final de maturação, em plena colheita e comercialização, sofrem com a praga; as laranjas de umbigo, do céu e sanguínea, também. Já as plantas novas sofrem ataques de pulgão nas brotações e de larva-minadora nas folhas. O preço para indústria está em R$ 6,00/kg.
Na região de Frederico Westphalen, devido às chuvas excessivas e aos dias nublados e de alta umidade, está ocorrendo queda de laranja e bergamota. Estima-se redução de produtividade entre 30% e 35%. Atualmente, os pomares encontram-se no estágio final de desenvolvimento e início de maturação dos frutos das variedades de ciclo médio e tardio. As variedades de ciclo precoce, como laranja de umbigo Bahia, de suco Iapar 73 e Salustiana, estão em plena colheita e comercialização. Há perspectiva de aumento no valor pago ao produtor, se a qualidade industrial melhorar.
Já na região de Caxias do Sul, seguem os levantamentos e mapeamento das áreas atingidas e de perdas nos municípios produtores. Diversos acionamentos de Proagro estão sendo verificados. Os agricultores não estão conseguindo acessar suas propriedades para realizar os tratamentos fitossanitários, seja pelo encharcamento do solo, seja pelos deslizamentos de terra, que estão bloqueando as estradas.
Nessas localidades, ocorre queda de frutos nas bergamotas Caí, Pareci e Ponkan. Os frutos de variedades mais tardias, como Montenegrina, Rainha e Murcott, que ainda estão em crescimento, apresentam rachaduras na casca e na polpa, aumentando as perdas. Quanto à produção de laranja, há baixa carga de frutos em razão de problemas nas fases de floração e fixação. As variedades mais precoces, como laranja do céu, estão em maturação e colheita.
No norte do Estado, as perdas foram na cultura da laranja, nas áreas inundadas na beira dos rios, principalmente em Itatiba do Sul e Erval Grande, municípios próximos a Erechim. Na região, ainda resta laranja precoce para colher (Iapar, Salustiana, Rubi, Umbigo Navelina e Bahia); o preço dessas variedades está, em média, R$ 1,50/kg ao produtor. No caso da variedade de laranja Valência, apesar de as frutas apresentarem grau Brix muito baixo, já há compradores. O preço é de R$ 1,00/kg. A produção total de laranja, nessas localidades, deverá ser 30% menor que em anos normais.
Por lá, segue a colheita de limão Tahiti e de bergamota comum, Caí e Satsuma, que estão sendo comercializadas a R$ 2,00/kg.
Safra de grãos
Soja – As áreas remanescentes de soja, ainda sujeitas à colheita, localizam-se predominantemente na metade sul do Estado. Porém, o período de condições meteorológicas adversas dificultou a operação e a área colhida avançou 3% em relação à semana anterior, atingindo 94% no Estado, estando ainda 6% das lavouras em maturação.
No extremo sul, não houve a possibilidade de colheita da soja em função da recorrência de chuvas. Já na Região da Campanha, os raros períodos de sol permitiram que somente alguns produtores acessassem as lavouras de melhor drenagem para realizar a atividade. Entre as dificuldades, a alta umidade dos grãos e a presença de grãos avariados, que causam obstrução nas máquinas colhedoras.
Além disso, a estatura das plantas está baixa, também em decorrência do excesso de chuvas durante o período de desenvolvimento vegetativo, o que provoca a fixação de vagens muito próximas ao solo. Apesar da disponibilidade de plataformas flexíveis na maioria das colhedoras, a função está comprometida pela instabilidade do solo, especialmente nas áreas implantadas pelo sistema convencional com gradagem. Essa situação resulta em perdas significativas, danos por debulha natural, germinação nas vagens, apodrecimento dos grãos e durante o processo de colheita.
Milho – A umidade e a nebulosidade ainda dificultam a colheita do milho em grande parte das lavouras do Rio Grande do Sul, já que os grãos não atingem a maturação nem o teor de umidade necessários para a operação. Nas regiões da Serra, Campos de Cima da Serra, Central e Campanha ocorreram danos qualitativos expressivos, que praticamente inviabilizam o uso e a comercialização dos grãos colhidos: muitas ocorrências de fungos, micotoxinas e germinação na espiga. Em razão das adversidades, a colheita de milho avançou apenas 1% em relação à semana anterior e atingiu 93% da área cultivada no Estado. Restam ainda 6% das lavouras em maturação e 1% está em enchimento de grãos.
Milho silagem – A colheita prosseguiu nas regiões menos afetadas pelas chuvas, especialmente no Planalto Médio. Nas regiões Sul e Campanha, a atividade foi inviabilizada pela recorrência de chuvas. A operação aproxima-se do final. As poucas lavouras remanescentes deverão sofrer redução de volume e de qualidade da massa vegetal a ser ensilada, em função do tombamento de plantas e do atraso na realização da colheita, provocados pelas chuvas e pelo excesso de umidade, desde o início de maio.
Na região administrativa da Emater/RS-Ascar de Bagé resta colher aproximadamente 130 hectares de milho silagem, o equivalente a 2,5% do total cultivado. As áreas recentemente colhidas e aquelas a serem ensiladas nas próximas semanas mostram redução na produtividade de massa seca e grãos, pois, além das chuvas, a ocorrência de geadas queimou parte das folhas e comprometeu a qualidade do material ensilado.
Em Aceguá, na área plantada de 2.500 hectares, que representa quase 50% de toda a área na região, as perdas atingiram 30%, também influenciadas pelo estresse hídrico em fevereiro e início de março. Em Hulha Negra, as lavouras ensiladas a partir de abril apresentaram quebra de 40%. Já na região de Lajeado, além das perdas nas lavouras houve perda de material já ensilado por ação das enxurradas. Em Travesseiro, foram perdidas aproximadamente 5.500 toneladas de silagem armazenada, levada pelas águas.
Feijão 2ª safra – Em razão da redução temporária das chuvas no quadrante Noroeste do Estado, foi possível realizar a colheita das lavouras maduras. No entanto, o produto colhido apresentou baixa qualidade, causada pelos grãos brotados e manchados. Estima-se que 73% dos grãos cultivados foram retirados do solo. Parte das lavouras restantes não apresenta perspectivas viáveis de colheita, devido ao prolongado período chuvoso, que favoreceu o surgimento de doenças e resultou em severas perdas na área foliar.
Arroz – A colheita de arroz prosseguiu durante as pequenas janelas temporais com melhores condições meteorológicas e se aproxima da conclusão. Na região administrativa da Emater/RS-Ascar de Bagé, da área total cultivada na região, estimada em 359.115 hectares, restam cerca de 9 mil hectares a serem colhidos, incluindo algumas áreas com possíveis perdas totais.
Em São Borja, os produtores se esforçam para realizar a colheita em áreas com risco de novo alagamento em razão da elevação do nível do Rio Uruguai. Em Maçambará, a colheita foi concluída e a produtividade média é de 7.523 kg/ha, apresentando bons rendimentos até meados de abril. Contudo, em função das chuvas constantes e dos ventos fortes, houve queda expressiva de 20% a 30% na produtividade.
Em Quaraí, a colheita foi concluída e as produtividades estão ligeiramente abaixo das expectativas iniciais. Há relatos de perda de qualidade dos grãos em partes das lavouras afetadas, que sofreram acamamento e atrasos na colheita, causados pelas dificuldades de acesso. Os produtores estão animados com a produtividade obtida, pois os preços do arroz se mantêm elevados, mesmo durante o período de colheita.
Pastagens e criações
O excesso de chuvas e as geadas têm prejudicado tanto as pastagens cultivadas quanto as nativas, resultando em limitação na oferta e qualidade do alimento para os rebanhos. Muitos produtores têm buscado medidas, como suplementação alimentar, para reduzir as perdas e garantir o bem-estar dos animais.
Bovinocultura de corte – A escassez de pastagens e sua qualidade inferior, devido às chuvas intensas e baixas temperaturas, provocam perda de peso nos animais, exigindo suplementação alimentar. A incidência de parasitas, como carrapato, aumenta e, por isso, demanda medidas de controle. Os atrasos no ciclo de pastagens afetam o planejamento reprodutivo e são necessários ajustes nas estratégias de manejo. No geral, os produtores enfrentam dificuldades para manter a saúde e a produtividade do rebanho diante das condições ambientais adversas.
Bovinocultura de leite – O declínio na produção de leite é evidente em razão da escassez de pastagens, causada pelo tempo desfavorável, o que leva os produtores a recorrerem à suplementação alimentar para manter o estado corporal dos animais. Desafios adicionais trazidos pelas condições meteorológicas adversas incluem a umidade excessiva do solo, problemas de saúde, como mastite, e manejo adequado.
Ovinocultura – O rebanho ovino enfrenta desafios nutricionais, sanitários e reprodutivos, devido ao atraso na implantação das pastagens de inverno, às chuvas frequentes e às temperaturas baixas. Essa situação resultou em perda de condição corporal, problemas de saúde, como doenças nos cascos e pneumonia, e dificuldades reprodutivas, incluindo abortos e natimortos.
Apicultura – Chuvas intensas, enchentes e baixas temperaturas prejudicam a atividade das abelhas e a disponibilidade de floradas em várias regiões. Esse cenário resulta em perdas significativas de enxames, inanição e falta de reservas alimentares.
Piscicultura – O excesso de chuvas e de umidade tem prejudicado a produção de alimentos para os peixes, a rentabilidade dos produtores e a qualidade da água nos tanques, além de exigir adaptações dos piscicultores para garantir a continuidade da produção.
Pesca artesanal – Na região administrativa da Emater/RS-Ascar de Porto Alegre, as atividades pesqueiras foram severamente afetadas pelas condições adversas. Na Costa Norte, a ressaca do mar prejudicou a pesca de cabo. Em Balneário Pinhal, as enchentes dificultaram a pesca na Lagoa do Patos. Em Arambaré, as chuvas intensas causaram alagamentos, forçando milhares de famílias de pescadores a deixarem suas residências.
Nos municípios de Pelotas e Rio Grande, as comunidades pesqueiras enfrentam grandes prejuízos devido às enchentes na Lagoa dos Patos, resultando em desalojamentos e dificuldades na pesca e comercialização. Em Jaguarão, o alto nível de água no Rio Jaguarão e na Lagoa Mirim prejudicou a pesca e a comercialização de peixes. Em Tavares, as inundações impactaram o acesso; na Lagoa do Peixe, a atividade pesqueira foi paralisada em função do alto nível de água e da perda de equipamentos. Na região de Santa Rosa, o aumento do nível do Rio Uruguai tornou a pesca desafiadora, afetando as famílias que dependem dela para subsistência.
Texto: Ascom Emater/RS-Ascar
Edição: Sara Goldschmidt/Secom