“Quando eles me ligaram, eu acreditei de cara que era, porque na hora que ele me perguntou: você tem alguém desaparecido? Aí eu falei: tenho! O meu irmão Mauri. Aí ele falou, pois é, o Mauri tá com a gente!” Com essas palavras, Maria Aparecida Moreira dos Anjos descreve como foi o primeiro telefonema que recebeu após quase 10 anos procurando o seu irmão Mauri Moreira dos Anjos, que estava desaparecido desde 27 de julho de 2014.
Em julho deste ano, o Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS), por meio da Promotoria de Justiça de Santo Antônio da Patrulha, em conjunto com o Abrigo Social Nova Vida e com o Instituto Geral de Perícias (IGP), iniciou a busca pela documentação e a família de um dos acolhidos que havia chegado ao abrigo no mês de maio, transferido de outra instituição do município.
O promotor de Justiça Camilo Vargas Santana relata que, ao ser procurado pela instituição de acolhimento, começou uma pesquisa para que o interno, que se autonominava Alex Josias Barros, tivesse documentos e um encontro com a família. “Tínhamos a informação que ele foi encontrado em situação de rua e, por precisar de cuidados mais especializados, foi transferido para o Abrigo Nova Vida. Ele foi levado até o IPG, em Porto Alegre, para tentar uma identificação. Porém, nada foi encontrado no Estado, mas descobrimos que, em 2022, o IGP em Osório já havia realizado um exame pericial de confronto papiloscópico (digitais)”, conta o promotor.
Camilo diz ainda que, ciente dessas informações, solicitou ao IGP o encaminhamento dos dados para os demais estados do Brasil, com a esperança de algum retorno positivo. “Passado um tempo, começamos a receber as negativas da Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina… até que em São Paulo deu positivo. E, com isso, também recebemos a informação de que ele estava desaparecido desde junho de 2014, na época, com 35 anos.”
Com todas as informações coletadas – nome correto e Estado de origem –, o promotor fez contato com a psicóloga e coordenadora do Abrigo Nova Vida, Kétlen Ribeiro. “Eu fiquei muito feliz, toda a equipe se encheu de alegria e, sem o apoio e dedicação do promotor e dos servidores do Ministério Público, não teríamos conseguido ter todas as informações tão rápido”, relata.
Kétlen repassou as informações para a Secretaria Municipal de Assistência Social para que o Centro de Referência da Assistência Social (Cras) de Santo Antônio da Patrulha fizesse contato com os familiares de Mauri. Foi então que o Cras entrou em contato com Maria Aparecida. “Eu comecei a chorar, ajoelhei e agradeci a Deus por terem encontrado o Mauri, porque era tudo que a gente queria. Nós nunca perdemos a fé que iríamos encontrá-lo”, conta a irmã.
Maria Aparecida diz que foram 10 anos bem difíceis e de incertezas sobre a situação do irmão. “Quando falaram que ele já estava aqui há mais de dois anos, eu fiquei muito feliz por ele estar bem, por estar reconhecendo a gente.”
O promotor ainda ressalta que essa história vai ter um final feliz graças à interação entre todos os órgãos de Santo Antônio da Patrulha. “No andar do expediente notei que precisamos cada vez mais ter esse olhar para as pessoas, para a sociedade, e isso me fez ver que o objetivo principal é realmente esse, é estar perto das pessoas. Uma reflexão que fizemos é que possivelmente ele já passou por algum atendimento médico, inclusive em outras cidades, e em nenhum momento se buscou saber quem era efetivamente. Talvez se essa pesquisa tivesse sido feita antes, o sofrimento dessa família já teria sido abreviado”.
Na tarde desta terça-feira, 17 de outubro, Maria Aparecida veio a Santo Antônio da Patrulha reencontrar o irmão pessoalmente, depois de algumas conversas por vídeo. Depois de quase 10 anos, Mauri, que tem o diagnóstico de esquizofrenia, irá retornar para a família.