Os últimos oito anos foram os mais quentes já registrados, confirmou, nesta quinta-feira (12), a Organização Meteorológica Mundial (OMM), ligada à ONU, apesar da persistência do fenômeno La Niña, que permitiu moderar temporariamente os efeitos do aquecimento global.
Os seis principais dados internacionais compilados pela OMM apontam para as mesmas causas: “as concentrações cada vez maiores de gases de efeito estufa e o calor acumulado”, destaca a organização da ONU em nota. A conclusão confirma as informações do programa europeu sobre as mudanças climáticas Copernicus, publicadas esta semana, e as da Agência Meteorológica dos Estados Unidos (NOAA) e da Nasa, também divulgadas nesta quinta-feira.
Em 2022, a temperatura média mundial esteve cerca de 1,15 ºC acima dos níveis pré-industriais, segundo a OMM. E o ano passado foi o oitavo consecutivo em que as temperaturas anuais mundiais foram superiores em pelo menos um grau em relação aos níveis observados entre 1850 e 1900. Dos últimos oito anos, o mais quente foi 2016, seguido de 2019 e 2020.
Efeito temporário
O Acordo de Paris sobre o clima, concluído em 2015, instou limitar o aquecimento global a 1,5 °C, o que, segundo os cientistas, permitiria frear os impactos das mudanças climáticas. Mas a OMM advertiu nesta quinta que “a possibilidade de – temporariamente – cruzar o limite de 1,5 °C aumenta com o tempo”.
Graças ao fenômeno meteorológico La Niña, que tende a fazer cair a temperatura dos oceanos e que persiste desde 2020, o aquecimento se conteve um pouco. O fenômeno poderia se estender até março, segundo a OMM, e seria seguido depois de um período neutro, marcado pela ausência do La Niña e de seu oposto, o El Niño.
A agência da ONU destacou que, no planeta como um todo, o impacto do La Niña seria “de curto prazo” e “não inverterá a tendência do aquecimento no longo prazo, causada pelos níveis recorde de gás de efeito estufa que prendem o calor na nossa atmosfera”.
Em 2022, várias áreas registraram temperaturas recorde: as regiões polares, assim como vastos setores do Oriente Médio, China, Ásia Central e Norte da África. A Europa, por sua vez, registrou seu segundo ano mais quente já registrado: Espanha, França, Reino Unido e Itália superaram seus recordes de temperatura média, informou o programa Copernicus.
Catástrofes
Em 2022, “fomos confrontados com várias catástrofes meteorológicas dramáticas que causaram muitas vítimas, destruíram meios de subsistência e socavaram o acesso e as infraestruturas de saúde, alimentação, energia e água”, denunciou, em nota, o diretor da OMM, Petteri Taalas.
O dirigente lembrou as inundações mortais que alagaram um terço do Paquistão e alertou para a “catástrofe humanitária” no Chifre da África, vítima da seca há várias temporadas. A OMM também havia identificado condições mais secas do que o habitual na Patagônia, na América do Sul, e no sudoeste da América do Norte.
“Desde os anos 1980, cada década tem sido mais quente do que a anterior” e a temperatura média na década entre 2013-2022 foi de 1,14 ºC acima da referência pré-industrial, frente ao 1,09 ºC entre 2011 e 2020, estimou o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês).
Frente a fenômenos meteorológicos cada vez mais extremos, Taalas insistiu em que é preciso “reforçar a preparação”. Neste sentido, o secretário-geral da ONU, António Guterres, anunciou na COP27 um plano de mais de US$ 3 bilhões para que o mundo seja coberto por sistemas de alerta precoces até 2027. Atualmente, só metade dos 193 países-membros dispõe destes tipos de sistemas.
* Informações de AFP Nina LARSON