Caso Rafael: ouvidas todas as testemunhas. Júri será retomado amanhã com interrogatório da ré

Com o depoimento de uma perita criminal, o segundo dia do júri do caso Rafael foi encerrado no início da noite desta terça-feira, fechando também a fase de oitivas de testemunhas e informantes. Ao longo do dia, ainda passaram pelo plenário familiares de Alexandra, o pai do menino e uma professora, totalizando sete pessoas. Ontem, foram ouvidas três testemunhas, totalizando 10 oitivas (a 11ª foi dispensada).

Amanhã, o julgamento será retomado a partir das 8h30min, no Salão do Júri do Foro da Comarca de Planalto, com o interrogatório da ré. Depois, serão realizados os debates entre as partes (1h30min para cada uma; 1h de réplica e igual tempo para tréplica).

A Juíza Marilene Parizotto Campagna preside o Tribunal do Júri.

Pai de Rafael

O depoimento de Rodrigo Winques, pai de Rafael, começou pouco antes das 15h e durou pouco mais de 1 hora. Alexandra acusa o ex-companheiro de ser o autor do crime. Ele foi ouvido como informante.

Para Rodrigo, Alexandra quer “se livrar” das acusações. O pai de Rafael afirma que, naquele dia, estava em Bento Gonçalves, onde vive, e trabalha na roça. O agricultor lamentou a perda do filho: “É bastante ruim. Não tenho pai nem mãe”.

Disse que a relação com Rafael era boa, que conversavam pelo WhatsApp, e que o menino queria ir morar com ele quando completasse 12 anos. “Vinha ver (Rafael) de vez em quando. Mas pagava pensão pra ele direitinho”, afirmou. As visitas aconteciam a cada dois meses. O pai de Rafael afirmou que tinha condições de criar o filho. Que queria levar Rafael para passear, “mas ela (Alexandra) nunca me deu”.

Alexandra, os dois filhos (Anderson e Rafael) e Rodrigo moraram juntos em Bento Gonçalves, por cerca de 1 ano. Segundo Rodrigo, o relacionamento amoroso terminou por traição. Afirmou que nunca houve registro de violência doméstica neste período.

Foi ela quem ligou para Rodrigo para contar sobre o desaparecimento de Rafael, na sexta-feira de manhã (o crime teria ocorrido entre a noite de quinta-feira e a madrugada de sexta). Rodrigo informou que estava na roça, em Bento Gonçalves. Disse que dormiu na cidade na noite anterior e que com ele estavam o sobrinho e a irmã.

Quando chegou em Planalto para ajudar nas buscas, Rodrigo disse que Alexandra estava calma demais e que suspeitou da ex-companheira.

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Rodrigo afirmou que a sua relação com o enteado Anderson sempre foi boa e negou as acusações de abuso sexual. “Capaz, isso é bobagem. Ele foi morar comigo quando tinha 3 aninhos”.

Da mesma forma, negou que tenha arma de fogo. A defesa mostrou uma série de imagens de armas e de um homem, que seria Rodrigo, posando com armamento. Ele disse serem de brinquedo ou compartilhadas de grupos de redes sociais.

Professora

A Professora Ladjane Ravagio deu aula por 1 ano para Rafael, em 2019. Ela prestou um breve depoimento na tarde desta terça-feira. “Era um menino quieto, tímido e muito reservado”, descreveu ela, acrescentando que Rafael era muito inteligente. De acordo com a educadora, ele estava “sempre bem cuidado”.

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Professora que deu aula para Rafael em 2019 e disse que ele era um menino reservado e inteligente
Créditos: Juliano Verardi – DICOM/TJRS
Ladjane disse que Rafael era muito ligado à mãe. “Ele fez uma homenagem para ela porque me disse que não convivia com o pai”, explicou.

Ela relatou que foi até a casa de Alexandra quando Rafael sumiu e que percebeu a mãe muito fria, “como se não fosse com ela”. Após encontrarem o corpo do menino, a professora disse que toda a sociedade sofreu. Sobre a volta às aulas após o ocorrido, a professora disse que “foi difícil”.

Avó materna

Isailde Batista, mãe de Alexandra Dougokenski, mora em frente à casa onde viviam a filha, e os netos, Anderson e Rafael. Na noite em que o caçula teria sido morto, ela contou que já era de madrugada, quando acordou com um forte barulho de carro. Ela chamou o filho, Alberto, mas ele não percebeu nada e dormiu. “Sentei na cama, tremia, não dormi aquela noite”.

A mãe considera que a filha é “uma mãezona” e não acredita que ela tenha sido capaz de matar o próprio filho. “Eu queria que todas as famílias fossem um pouquinho do que essa família era”.

A ex-sogra criticou Rodrigo Winques, pai de Rafael. Disse que a família não o queria por perto. E que neto “detestava esse homem”. Segundo ela, o menino chamava Rodrigo de “demo, demônio” e já teria declarado que preferia “ir para uma casa de passagem” do que morar com o pai.

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Isailde afirmou que Rodrigo batia em Alexandra. E relatou que Rafael contou para ela que, certa vez, teria se metido no meio de uma briga entre Rodrigo e Alexandra, para evitar que o pai matasse a mãe.

Ela afirmou não lembrar dos seus depoimentos na fase de investigações e criticou a atuação da Polícia. A idosa, que chegou a conceder entrevistas à imprensa pedindo punição para Alexandra, se arrepende: “Abandonei a minha filha. Não ajudei ela”.

Depoimento do tio

Alberto Moacir Cagol, tio de Rafael, disse que os filhos respeitavam muito a irmã dele, Alexandra. “Era um grude. A mana buscava ele na escola, não deixava o piá sozinho”, afirmou, sobre a relação dos dois. Já com o pai, Rodrigo, ele afirmou que o sobrinho preferia ir para “uma casa de passagem” do que morar com o pai. “É o demo. O demônio”, disse que Rafael o chamava assim.

Alberto lembrou que os cães farejadores usados pela polícia nas buscas ao menino não identificaram o corpo, que foi encontrado no terreno vizinho à casa da família, o que achou estranho. Também disse que ele mesmo chegou a verificar a caixa onde o corpo foi posteriormente localizado. “Tinha digitais minha e da minha mãe”.

Para ele, a irmã não tinha motivação para matar o filho. “Não faz sentido algum”. Alberto falou que Alexandra estava desesperada, mas que não saía para fazer buscas ao filho desaparecido.

Ele não quis responder as perguntas do Ministério Público.

Perita

A Perita do Instituto Geral de Perícias (IGP/RS), Bárbara Cavedon, participou da reprodução simulada dos fatos, cerca de 1 mês após o crime, quando Alexandra narrou o que teria acontecido na noite em que o menino teria morrido.

Para o procedimento, foi usado um boneco pertencente ao IGP, com um peso aproximado ao de Rafael – cerca de 40 kg. Alexandra não conseguiu carregá-lo, por estar debilitada, e o Delegado acabou executando os movimentos, conforme a ré narrava.

A perita explicou que havia uma distribuição corporal do peso do boneco, diferente da de um ser humano normal, e ele era também mais rígido. “Ela tinha passado mal durante a custódia, e sido medicada. Tomei o cuidado de falar com o médico que a atendeu para verificar quais substâncias tinham sido dadas a ela, se isso teria algum impacto na reprodução”, lembra.

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Bárbara coletou a versão de Alexandra e de Anderson, que estava em casa naquela noite e, posteriormente, houve a reprodução simulada. “Comparamos essa versão com todos os outros vestígios que passaram pela perícia, como exames de laboratório, necropsia, etc. Todas as informações que Alexandra nos trouxe foram comparadas com todos esses outros exames”, explicou.

Alexandra teria ministrado dois comprimidos de Diazepam em Rafael. Depois de um tempo, retornou ao dormitório e viu que seus lábios estavam roxos. Ela saiu do quarto, retornou e não identificou pulsação nele. Ela se preocupou que o outro filho acordasse e, acreditando que Rafael estaria morto, resolveu tirá-lo da residência. Pegou uma corda de varal para transportar o menino. Na ocasião, Alexandra não falou em Rodrigo.

Alexandra teria feito um nó na corda, que foi posicionada no entorno dos braços de Rafael. “Ela referiu que fez alguns estalos e que neste momento se deu conta de que a corda estaria no pescoço do Rafael”. Na simulação, a corda, de fato, deslizou e, pelo movimento que fazia, acabou apertando o pescoço.

A ré indicou que os fatos teriam acontecido na madrugada de 15/05/20 e, de acordo com a perita, comparando com o tempo em que o corpo foi encontrado, 10 dias depois, o tempo de decomposição do corpo seria compatível.

Já Anderson não participou da reprodução dos fatos. Bárbara explicou que o jovem atuou só na primeira parte dos trabalhos, a da entrevista. Ele afirmou ter ouvido barulhos naquela noite. “Ele referiu dois tipos de ruídos, na parte interna e na externa da casa”. E recordou ter ouvido alguém dizendo “não, pai”. “Isso não foi reproduzido porque ele referiu só o que tinha ouvido”, explicou a perita. A partir disso, ele foi dispensado. Bárbara acredita que as declarações de Anderson ocorreram depois da conversa dele com a mãe na Delegacia.

A caixa utilizada na reprodução não era a mesma em que o corpo de Rafael foi encontrado. Alexandra demonstrou como teria colocado e posicionado o menino lá. A perita não lembra se o Delegado teve dificuldade de realizar esses movimentos.

A simulação foi acompanhada por advogados, membros do MP, entre outras pessoas.

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