O Delegado de Polícia Ercílio Carletti que comandou as investigações que apuraram o desaparecimento e, posteriormente, o homicídio de Rafael Winques, depôs por mais de três horas no Foro da Comarca de Planalto.
O Policial Civil falou sobre linhas investigativas, as diferentes versões apresentadas pela ré, Alexandra Salete Dougokenski, e também sobre a suposta coação que ela e familiares teriam sofrido no decorrer das investigações.
Pai foi primeiro investigado
Segundo a testemunha, foram realizadas muitas diligências na busca pelo menino, com apoio de colegas da região e também da própria comunidade, que se mobilizou para encontrar a criança. O Delegado falou que acreditava no desaparecimento de Rafael e que trabalhou com hipóteses diversas, como sequestro para fins libidinosos, crime envolvendo internet ou mesmo que o menino pudesse estar com o pai, já que havia divergências entre Rodrigo e Alexandra em relação à guarda do filho.
Informou que o pai foi o primeiro a ser investigado. “Mas ouvimos algumas pessoas e não havia nenhum sinal, nenhum indicativo de que o Rodrigo tivesse levado o menino”, afirmou Carletti. Ele disse que Rodrigo sempre manteve a mesma versão e se mostrou colaborativo.
Questionado pela Defesa, caso eles conseguirem provar em plenário que Rodrigo Winques estava em Planalto na tarde do crime, se ele mudaria o seu entendimento, o Delegado respondeu que “teoricamente, sim”.
O Policial Civil recordou que, na primeira fase das investigações, foram ouvidas em torno de 10 pessoas. Com a descoberta do homicídio, após a confissão de Alexandra, foram cerca de 50 oitivas. “Na minha carreira profissional, não me recordo de um inquérito com tanta riqueza de diligências realizadas e conduzido com tanta calma”.
Diferentes versões
Carletti falou sobre o início das suspeitas sobre a mãe de Rafael. Contou que, nas duas vezes em que esteve na casa dela, lhe chamou atenção um calendário, em especial, o mês de maio, por ser o do seu aniversário. Não havia, na ocasião, uma marcação no dia 14 de maio. Até que ela chamou o inspetor para dizer que havia uma novidade; que ela viu essa data marcada no calendário e que teria sido feita pelo menino, suspeitando de uma possível fuga. “Foi aí que vi que algo estava errado”, afirmou.
Ele solicitou, então, um depoimento mais detalhado da mãe. “Pedimos para olhar o celular dela. O inspetor acessou o Google e viu pesquisas relativas a medicação, a composição do ‘Boa Noite, Cinderela’. Ela alegou que queria orientar os filhos sobre os perigos da internet”. Questionado, o irmão mais velho de Rafael teria dito que a mãe nunca falou sobre esses assuntos com eles. Na noite da morte da criança, Alexandra teria também pesquisado sobre filmes pornográficos envolvendo cenas mais fortes, como enforcamento.
De acordo com o Delegado, as versões da mãe para o crime foram alteradas mais de uma vez. Na primeira delas, Alexandra disse ao Delegado que ministrou medicamento (dois comprimidos de Diazepan) em Rafael, que ficou com a boca roxa e gelada. Ela relatou que amarrou uma corda no pescoço e no tornozelo da criança para poder carregar o corpo até o terreno vizinho à casa deles. “Ela me disse que pegou o corpo, levou até essa residência. Havia (no terreno) uma caixa com umas sacolas. Ela os retirou e colocou o corpo na caixa. Fomos até o local, e estava lá”. A preocupação da Polícia, a partir dali, passou a ser acionar a perícia e retirar Alexandra da cidade, em razão da revolta da população. “Em nenhum momento ela disse que alguém a ajudou. Assumiu a autoria, de forma culposa”.
O corpo do menino, que já estava morto há cerca de 10 dias, estava conservado. O Delegado explicou que o acondicionamento, as condições climáticas e a ausência de insetos levou a este fator. O pescoço tinha um laço duplo com dois nós que, segundo Carletti, eram semelhantes aos que tinham nos varais da casa de Alexandra.
No Palácio da Polícia, em Porto Alegre, a defesa de Alexandra gravou um vídeo onde ela mudou a primeira versão, dizendo que foi coagida pela Polícia para assumir a culpa. Em seguida, em novo depoimento à Polícia, ela mudou as declarações e confessou que matou o menino estrangulado. “O motivo que ela apontou foi a desobediência do filho, o abuso do uso de celular. Ele não estava fazendo as tarefas de casa. Para mim, este é um motivo sem sentido”, afirmou o Delegado. “Na minha concepção, a confissão dela, em si, não altera os fatos”, observou ele. Ainda na Capital, ela foi ouvida por uma Delegada da Corregedoria da Polícia Civil, para quem ela negou que tivesse sofrido qualquer pressão pela equipe policial.
Foi instalada uma escuta ambiental, com autorização judicial, em que Alexandra conversa com filho e com o namorado dela de que o pai de Rafael seria o autor do crime, o que ela mantém até hoje. De acordo com o Carletti, esta versão não foi levantada por ela na fase policial.
O Delegado ressaltou que pôde concluir que Alexandra era uma pessoa organizada e rígida com a organização dos filhos. “A certeza que eu tenho é plena”, afirmou o Delegado sobre o indiciamento da mãe de Rafael. Além do homicídio, ela foi indiciada por ocultação de cadáver e fraude processual.