Verão começa nesta quarta e será marcado por ondas de calor e chuvas irregulares no RS

O verão 2022/2023 começa no final da tarde desta quarta-feira, exatamente às 18h48min no Hemisfério Sul. Segundo a MetSul Meteorologia, a estação mais quente do ano terá chuva ainda mais irregular do que o normal e provocará um cenário de estiagem, inclusive de moderado a forte em algumas regiões do Rio Grande do Sul. No entanto, os episódios consecutivos de calor, como os 15 dias seguidos com máximas acima de 40ºC, ocorridos no início de 2022, não devem se repetir na próxima temporada. Ainda assim, as projeções indicam uma estação com temperaturas acima da média histórica na grande maioria das cidades gaúchas. É alta a probabilidade de que sejam registradas ondas de calor, as informações são da Metsul Meteorologia e do Jornal Correio do Povo.

O verão tem início com o Pacífico Equatorial Central ainda sob a influência do fenômeno La Niña, caracterizado pelo resfriamento das águas do Oceano Pacífico Equatorial e que tanto impacto trouxe no clima nos últimos meses. É o terceiro verão seguido que começa com La Niña, mas que já atingiu seu pico de intensidade em outubro.

Conforme a MetSul, a estação terá déficit de precipitação em muitas áreas, proporcionando condições de estiagem. Dessa forma, partes do Estado devem voltar a enfrentar problemas de falta de chuva mais volumosa com perda de produtividade nas safras de verão, diminuição dos níveis dos rios, risco de escassez de água para consumos humano e animal e mais decretos de emergência por seca, além de risco acentuado de incêndios em vegetação (queimadas).

“É fundamental destacar que não se espera estiagem tão forte como a que assolou o Sul do Brasil e o Mato Grosso do Sul em 2022. Haverá pontos do Sul do país com perda de produtividade por deficiência hídrica, especialmente na cultura de milho que já vive os efeitos da chuva irregular da segunda metade da primavera, mas para 2023 o cenário é distinto de 2022 e não há indicativos de uma seca de proporções mais severas”, disse a meteorologista Estael Sias. 

Ainda que o Rio Grande do Sul não deva ter episódios consecutivos de calor como em 2022, algumas cidades do Oeste, Centro e Sul gaúcho devem experimentar eventos ou maior número de dias com altas temperaturas. “Aquele foi um evento muito fora da curva climatológica, no que possivelmente foi uma das três mais intensas onda de calor da história gaúcha, sendo improvável estaticamente que se repita com igual ou maior intensidade no ano seguinte”, analisou Estael.

Episódios pontuais de chuva 

As projeções sinalizam para a ocorrência de episódios pontuais de chuva volumosa a excessiva, de curta duração, e com características ou localizadas ou regionalizadas durante o verão. Em regra, acompanham temporais passageiros de verão em dias quentes e mais úmidos, mas também podem ocorrer por ciclones ou, no caso do Litoral Norte, por fluxo de ar úmido do oceano.

“Do ponto de vista da climatologia histórica, as regiões Norte, Leste e Nordeste do Rio Grande do Sul têm uma maior propensão a estes episódios de chuva volumosa, sobretudo o Litoral Norte que sofre maior influência das correntes de umidade que atuam nesta época do ano no Sudeste do Brasil e nos litorais de Santa Catarina e do Paraná”, explicou a meteorologista Estael Sias.

No caso do verão 2022/2023, a Metade Norte do Rio Grande do Sul e áreas mais próximas da costa devem ter mais chuva, apesar de irregular, que o Sul, o Centro, a Campanha e o Oeste que terão um risco de estiagem maior. Portanto, nas praias, o Litoral Norte terá mais chuva que os balneários do Litoral Sul. Com padrão mais chuvoso no Leste catarinense e paranaense, o Litoral Norte gaúcho deve ter, inclusive, risco de períodos de excesso de chuva. 

A Metade Norte, que concentra a maior parte da produção agrícola gaúcha, mesmo com previsão de mais chuva que a Metade Sul, ainda assim terá períodos secos com déficit hídrico, sobretudo no começo da estação e no seu final. “A despeito de a La Niña trazer chuva mais irregular e aumentar o risco de estiagem, a climatologia histórica mostra que em anos de La Niña em parte do Rio Grande do Sul ao menos um mês do verão costuma ser mais chuvoso quando o fenômeno está presente. Às vezes é fevereiro, mas, em regra, é janeiro”, frisou.

Estael ainda destacou que o verão é a época em que tradicionalmente ocorrem pancadas localizadas e passageiras de chuva que se dão, em regra, da tarde para a noite em dias de calor e umidade alta. Não raro chegam acompanhadas de temporais, alguns fortes de vento e granizo, e podem despejar volumes altos de chuva em curto período com transtornos nas cidades por alagamentos. 

Como este verão não deve ser tão seco como o último, com maior número de dias de mais alta umidade, a perspectiva é que ocorram mais temporais de verão que em 2021/2022, especialmente do Centro para o Norte gaúcho.

Nordestão presente 

Mesmo sendo verão é provável que ocorram dias de temperatura amena com maior influência de rápidas passagens de ar frio de trajetória marítima afetando mais o Sul e o Leste do Estado, especialmente em março. “A La Niña também interfere no vento no Rio Grande do Sul”, comentou Estael Sias. 

Os pulsos de ar frio de trajetória marítima atuarão em alguns momentos sobre o Atlântico Sul perto da costa gaúcha e o vento “Nordestão” nas praias se fará presente em nosso litoral, para o incômodo dos veranistas.

Por outro lado, como neste verão há expectativa de temperatura mais alta do mar na costa com ingresso da Corrente do Brasil favorecido pelo quadro de precipitação deficiente a partir de frentes frias que chegam fracas ou mesmo desviam do Estado, os veranistas tendem a enfrentar menos dias com Nordestão e vão desfrutar mais dias com mar claro e quente. 

“Neste verão, especialmente na segunda metade da estação, e no começo do outono, devido à menor divergência de vento na atmosfera resultante do tempo mais seco e menor frequência de frentes frias com a estiagem, há um risco muito aumentado de formação de ciclones atípicos na costa do Rio Grande do Sul e do Sul do Brasil, seja de natureza subtropical ou mesmo tropical, raros na nossa climatologia”, projetou Estael.

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