Massa de ar frio excepcional para a época do ano trará frio de inverno

Uma poderosa frente fria seguida de uma incomum e não menos potente massa de ar frio vai avançar para o Sul do Brasil no começo desta semana com chuva, tempestades que em algumas cidades podem ser violentas com vendavais intensos, e uma queda que os meteorologistas da MetSul Meteorologia descrevem será “brutal” com temperatura típica de julho em pleno final de outubro e início de novembro.

A massa de ar polar é tão intensa e fora dos padrões normais que alguns modelos por dias têm sugerido a possibilidade de queda de neve no começo do mês nas áreas de maior altitude do Sul do Brasil, o que jamais foi registrado em novembro em um século de observações. “É o tipo de prognóstico que jamais imaginamos fazer, o de possibilidade de nevar em novembro”, diz o meteorologista Luiz Fernando Nachtigall, da MetSul, com 40 anos de experiência em previsão do tempo.

“É uma situação sui generis, que foge muito ao normal, porque estamos diante de uma incursão de ar frio que em pleno novembro será intensa no Centro-Sul do Brasil e conseguirá alcançar até o Peru e a região amazônica, o que somente se vê nas massas de ar polar de inverno, com a lembrança que estamos muito mais perto do verão no momento”, comenta.

O meteorologista Christian Caravaglia, do Serviço Nacional de Meteorologia da Argentina, compartilha da percepção. O profissional da Meteorologia Buenos Aires descreveu a frente fria que vai mudar o tempo entre a Argentina, o Uruguai e o Rio Grande do Sul neste domingo como “descomunal” e qualificou a incursão de ar frio que se seguirá como “extraordinária”.

PODEROSA FRENTE FRIA TRARÁ TEMPORAIS 

A MetSul Meteorologia alerta que uma abrangente onda de tempestades precederá o ingresso do ar frio neste começo da semana. Cenário de tempestades localmente severas é esperado pela MetSul para o Centro e o Norte da Argentina, Uruguai, Centro-Sul do Brasil e ainda na Bolívia e mesmo no Peru.

“É muito alto o risco de tempestades de grande severidade com vendavais e granizo de variado tamanho, além de chuva localmente forte a intensa”, alerta Nachtigall. No Rio Grande do Sul, a frente avança da tarde para a noite do domingo e nas primeiras horas da segunda. O sistema frontal, então, atingirá todo o Paraguai, os demais estados do Sul, o Centro-Oeste e parte do Sudeste na segunda-feira.

Conforme aviso da MetSul, a frente fria é tão poderosa que o sistema frontal conseguirá alcançar algumas áreas do Norte e até do Nordeste do Brasil, como o interior da Bahia, com chuva e temporais na terça. “Uma das preocupações principais que temos no avanço desta frente fria será a ocorrência de vendavais que, em alguns locais, poderão ter rajadas com força destrutiva. Haverá combinação de fatores para agravar o risco de vendavais localmente intensos e severos”, diz Nachtigall.

“Primeiro, a frente fria vai se deslocar muito rapidamente e sistemas frontais de rápido deslocamento costumam trazer vento forte. Segundo, a pressão atmosférica estará muito baixa, o que acentua o risco de vendavais. E, por fim, a frente será precedida por ar muito quente e será seguida por ar muito frio, condição que igual favorece vendavais”, alertou o meteorologista.

Além dos vendavais, supercélulas isoladas de tempestade devem trazer granizo de variado tamanho e que em alguns pontos pode ter diâmetro médio a grande. Mesmo o risco de tornados não pode ser descartado durante o deslocamento da frente fria pelos estados do Centro-Sul do Brasil no começo da semana, advertiu a MetSul.

MASSA DE AR FRIO DE INTENSIDADE INCOMUM PARA NOVEMBRO

Uma extraordinária massa de ar frio ingressa neste começo da semana no Rio Grande do Sul. O frio, associado a uma massa de ar polar de trajetória continental que vai avançar pelo interior da América do Sul, derrubará a temperatura no Sul e em parte das regiões Centro-Oeste, Sudeste e até no Norte brasileiro.

“Será um evento notável do ponto de vista da climatologia. Embora fazer frio em novembro não seja algo raro, a intensidade desta massa de ar frio destoará muito do que é comum para o penúltimo mês do ano”, pondera a meteorologista da MetSul Estael Sias. “Vai fazer frio com força que seria muito normal para o inverno, mas é absolutamente incomum para novembro com temperaturas 10ºC a 15ºC abaixo das médias históricas do mês”, enfatiza.

A madrugada mais fria da semana deve ser a da quarta-feira, embora já faça frio antes. Porto Alegre pode ter entre 8ºC e 9ºC enquanto os Aparados e o Planalto Sul Catarinense podem anotar -3ºC a -5ºC. Grande parte do interior gaúcho deve ter mínimas ao redor ou abaixo dos 5ºC. A fronteira com o Uruguai, por exemplo, pode anotar 1ºC a 3ºC na terça e na quarta, persistindo o frio com menor intensidade nas madrugadas de quinta e sexta. Nas áreas de maior altitude do Sul do Brasil, chance de marcas negativas na quarta, na quinta e ainda na sexta, mas na terça picos como Morro da Igreja já podem ter marcas ao redor de 0ºC ou negativas.

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A massa de ar frio começa a ingressar pelo Oeste e o Sul gaúcho no final deste domingo e tomará conta do estado durante a segunda. As marcas nos termômetros declinam acentuadamente na segunda e se mantêm baixa na terça. Na segunda metade da semana começará a aquecer mais à tarde, mas ainda com temperatura bastante inferiores ao normal para novembro e com noites frias.

CHANCE DE NEVE HISTÓRICA E INÉDITA

Modelos numéricos por computadores têm indicado chance de chuva congelada e/ou neve todos os dias desde o último fim de semana. Os mais recentes dados, de ontem para hoje, diminuíram muito as chances do fenômeno e apontam uma pequena possibilidade entre os dias 1 e 2 no Planalto Sul Catarinense e nos Aparados da Serra, do Rio Grande do Sul.

Modelo canadense na saída do dia 25/10 chegou a indicar neve mais ao Norte catarinense e com acumulação, mas nas rodadas posteriores deixou de indicar tal cenário | METSUL

Ao longo da última semana, quando todos os dias os modelos apontavam neve, o modelo de previsão do tempo canadense – que melhor previu a neve do primeiro dia da primavera – em alguns momentosa chegou a sugerir neve com acumulação e o registro do fenômeno até no Norte catarinense e no Sul do Paraná, entretanto nas mais recentes saídas deixou de indicar tal cenário. Um modelo que segue indicando chance de neve é o WRF, mas com ocorrências muito isoladas.

“É provável que tenha nevado em novembro nos séculos 18 e 19, no final de uma era climática conhecida como Pequena Idade do Gelo, mas nos últimos 100 anos não se tem nenhum dado ou documento histórico que mostre neve no Brasil em novembro”, explica Estael.

Conforme o geógrafo Nilson Wolff, autor do livro “A Neve no Brasil”, o registro documentado mais tardio de neve no Brasil se deu no final de outubro, sem precedentes do fenômeno em novembro. O episódio se deu, segundo anotações históricas, entre 19 e 20 de outubro de 1946 em São Francisco de Paula.

AR FRIO VAI INGRESSAR COM VENTO FORTE

O ar mais frio ingressa no final do dia de hoje e no começo da segunda-feira no Rio Grande do Sul com fortes a ocasionalmente intensas rajadas de vento de Oeste a Sul, acompanhando um declínio muito acentuado da temperatura. Vento é comum quando do ingresso de massas de ar frio de maior intensidade em qualquer época do ano e ainda mais em incursões que ocorrem em períodos mais quentes, como é o caso de agora.

Espera-se vento forte a intenso também na chegada do ar frio em áreas do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul, sobretudo em cidades mais a Oeste dos dois estados, onde o resfriamento será acentuado, assim como no litoral da Região Sudeste. O vento muito forte em mar aberto por conta da advecção fria ainda deve deixar o mar agitado com risco de ressaca nas praias nos litorais do Sul e do Sudeste.

GEADA PREOCUPA PELO RISCO DE PERDAS NO CAMPO

O frio vai representar risco e alto é para a agricultura, afinal se espera geada e nesta época do ano, quando o fenômeno ocorre tende a se limitar mais a cidades de maior altitude, como dos Aparados e o Planalto Sul Catarinense. Desta vez pode gear muito tardiamente em municípios de baixa e média altitudes, o que em se tratando de novembro é pouco comum e atinge o começo da safra de verão. “Se em setembro geada tardia já preocupa o campo, imagine no mês de novembro”, diz Estael.

Os dias com maiores probabilidade de geada são 1 a 5 de novembro (veja como acompanhar os prognósticos de geada). No dia primeiro, em cidades mais a Oeste do Sul do Brasil. Entre os dias 2 e 3 o fenômeno tende a ser mais generalizado e alcançar grande número de municípios. Nos dias 4 e 5, a geada se concentraria mais em locais de maior altitude.

Em 2007, ano que é análogo a 2022 nas análises de clima da MetSul, o mês de novembro teve uma poderosa massa de ar frio para os padrões de novembro na Argentina. As zonas produtoras enfrentaram geada, em muitos locais forte, entre os dias 11 e 15 de novembro daquele ano. À época, segundo entidades ruralistas argentinas, a perda no trigo foi de 1,5 milhão de hectares ou 200 milhões de dólares em prejuízo.

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