Após Bolsonaro chamar lucro da Petrobras de “crime”, presidente da estatal diz que vai seguir preços de mercado
O presidente da Petrobras, José Mauro Coelho, disse que a empresa vai continuar seguindo os preços de mercado como forma de gerar riqueza para a sociedade e evitar o desabastecimento. O executivo participou da apresentação de resultados financeiros do primeiro trimestre deste ano que foi transmitida pela internet.
Nesta quinta (5), a estatal anunciou lucro líquido de R$ 44,561 bilhões no primeiro trimestre deste ano. O resultado representa uma alta de 3.718,4% em relação ao R$ 1,16 bilhão obtido no mesmo período do ano passado.
“Não é só preço do barril. É gestão responsável que tem sido feita nos últimos anos. Não podemos nos desviar da prática de preços de mercado. É uma condição necessária para a geração de riqueza não só para a empresa, mas para toda a sociedade brasileira, fundamental para a atração de investimentos do País e para garantir o suprimento dos derivados que o Brasil precisa importar”, disse ele.
Coelho lembrou ainda que o Brasil hoje é importador de vários derivados como diesel, GLP (gás de botijão), gasolina e querosene de aviação (QAV).
Pouco antes da divulgação do resultado, o presidente Jair Bolsonaro fez duras críticas aos lucros da estatal, menos de um mês depois de ele trocar o comando da empresa:
“O lucro da Petrobras é maior com a crise. Isso é um crime, inadmissível”, disse.
Defasagem chega a 21% em diesel
A Petrobras está sem reajustar os preços do diesel e gasolina nas refinarias desde o dia 11 de março. Nas últimas semanas, representantes dos importadores vêm sinalizando que a defasagem de preços pode gerar falta de combustíveis em alguns locais do Brasil.
Dados da Abicom, que representa as importadores, apontam que nesta sexta-feira a defasagem média do diesel está em 21% (R$ 1,27 por litro) e da gasolina, em 17% (R$ 0,78 por litro).
Perguntado sobre os riscos de desabastecimento, Cláudio Mastella, diretor de Comercialização e Logística da estatal, disse que a empresa vê o cenário hoje “com cautela”:
“O mercado é atendido por várias empresas. Não temos visibilidade dos demais agentes. Enxergamos com cautela o cenário atual devido aos baixos estoques de diesel nos tanques de armazenagem (no exterior)”, afirmou .
Mastella disse ainda que a empresa vêm reforçando a atuação em suas operações no exterior, como em Houston, Roterdã e Cingapura. Ele citou a crise da Covid-19 e a guerra na Ucrânia como principais motivos para a instabilidade global.
“Estamos mantendo contato com as cadeias globais sejam armadores e tradings. Isso permite monitorar os fluxos de derivados e as demandas regionais. E com isso buscamos antecipar risco”.
Tabelamento não funciona, diz diretor
Rafael Chaves, diretor de Relacionamento Institucional e de Sustentabilidade da estatal, afirmou que a Petrobras pratica preços de mercado.
“Só existem duas opções. Ou é um preço de mercado. O preço de mercado vai equilibrar a oferta e a demanda. O preço tem um papel informacional. Esse mecanismo de preço é uma forma democrática de passar informação entre muitos compradores e vendedores e equilibrar a oferta e a demanda. Ou é preço tabelado. E já se viveu isso no passado no Brasil e alguns vizinhos tentam também e é uma solução que não funciona”, afirmou.
“É o que a legislação exige da gente e é isso que garante a mitigação de riscos de desabastecimento de mercado. É importante que se respeite os preços do mercado”.
O presidente da Petrobras lembrou, em sua apresentação, que a estatal vai seguir com o plano de negócios que já havia sido estabelecido pela empresa antes de sua chegada à estatal, mês passado:
“Seguiremos comprometidos e aderentes à estratégia delineada ao nosso plano estratégico”.
Foco no pré-sal, diz Coelho
Ele destacou a ênfase aos ativo do pré-sal. Em cinco anos, vão entrar em operação 13 das 15 plataformas previstas. Isso vai proporcionar aumento de produção em petróleo e gás, colocou.
“Temos a perspectiva de aumento de 500 mil de barris de óleo equivalente (boe) em nossa produção nos próximos cinco anos”.
Citou a continuidade na venda de ativos, com “ajuste de portfólio”, com operações que geram menor retorno financeiro e com menor aderência ao planejamento estratégico. Lembrou também os acordos com o governo para se desfazer de refinarias e ativos de gás natural.
“Esses processos permitem que outras empresas desenvolvam outros recursos. Isso vai fortalecer a economia brasileira”.
Entre os investimentos, Coelho afirmou que vai destinar US$ 7 bilhões em refino e gás natural nos próximos cinco anos com aumento de segurança e eficiência energética.
A companhia informou ainda vai distribuir R$ 48,5 bilhões em dividendos a seus acionistas. Grande parte do valor se refere a antecipação da remuneração aos acionistas relativa ao exercício de 2021, quando teve lucro recorde de R$ 106 bilhões.
Rodrigo Araujo Alves, diretor financeiro da empresa, disse que a política de dividendos permite que, além de dividendos trimestrais, a empresa pode pagar dividendos extraordinários a depender do resultado.
(O Sul)