Professor diz sofrer ameaças após relacionar ‘flatulência dos rebanhos’ com efeito estufa no RS

Um professor de biologia de uma escola em Pelotas, no Sul do Rio Grande do Sul, começou a sofrer ameaças depois de ser acusado de relacionar o agronegócio com o efeito estufa. Enrico Blota, de 42 anos, citou a produção agropecuária e a “flatulência dos rebanhos” como causas da geração de gases prejudiciais à atmosfera, gerando comoção em um grupo nas redes sociais, as informações são do Portal G1 RS.

“Usei um exemplo em aula de que há o consumo de milhares de litros de água para que um quilo de carne chegue à nossa mesa. Então, eu disse que o que estaria ao meu alcance como cidadão para amenizar o efeito seria reduzir o consumo”, conta Enrico, justificando que não falou em boicotar a indústria, pois ele próprio é consumidor.

Fotos da lousa de uma aula que deu há cerca de um mês para alunos do segundo ano do ensino médio foram divulgadas na internet. Ele está afastado da instituição de ensino desde a última segunda-feira (25) devido ao abalo emocional que está sofrendo.

“No assunto seguinte, aí sim sobre efeito estufa, usei o exemplo da flatulência do gado, que libera gases que contribuem para o efeito estufa”, diz.

No último domingo (24), o proprietário e fundador da escola particular Mário Quintana, Carlos Valério, publicou um texto em um jornal local em que dizia que o professor de biologia da sua escola “cometeu um grave equívoco em sala de aula”.

A direção da escola, contudo, sustenta que esta era uma opinião pessoal de Valério. O g1 entrou em contato com a escola, mas, até a atualização mais recente desta publicação, não havia obtido retorno.

O que foi tratado na aula

Enrico explica que uma pessoa fotografou a lousa nos dois momentos, misturou as informações e fez a divulgação.

“Independentemente disso, os dois assuntos estão relacionados ao efeito estufa. Fotografaram estas informações — quantidade de água na produção de carne, emissão de gases pelo gado, redução do consumo — e jogaram na internet como se fosse uma militância contra o agronegócio”, desabafa.

Áudios com ameaças contra a sua integridade física começaram a circular em grupos de WhatsApp.

“Uma questão sem maior importância ganhou um viés ideológico nas redes sociais que não houve na aula. Eu não participo de movimentos, não tenho partido, nem faço qualquer tipo de militância. Meu negócio é ciência, apenas”, diz.

O afastamento

O professor Blota está afastado da escola Mário Quintana desde a última segunda-feira (25). A medida é válida por duas semanas. Ele alega abalo emocional, situação que afeta também a sua família.

O Sindicato dos Professores do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinpro/RS) presta auxílio ao docente que negocia com a escola a sua demissão. Além de Pelotas, ele leciona em Caxias do Sul, na Serra.

O diretor do Sinpro, Erlon Schuler, criticou posicionamento do proprietário da escola.

“As declarações das instituições de ensino, além de serem desprovidas de fundamentação teórica, técnica e científica sobre o tema Efeito Estufa, não têm compromisso com a verdade, mostrando apenas desconhecimento acerca da matéria tratada pelo professor. E pior, procuram desmerecer o saber técnico e pedagógico do docente, ferindo a sua dignidade pessoal e profissional e levando a necessária e injusta exposição pública”, diz.

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