O proprietário da boate Kiss, Elissandro Spohr (Kiko) é o primeiro dos réus a ser ouvido no julgamento da Boate Kiss. Ele responde desde as 18h desta quarta-feira (08) aos questionamentos do magistrado e ao interrogatório de sua bancada de defesa, depois de serem encerrados os depoimentos dos sobreviventes, das testemunhas de defesa e de acusação.
O magistrado Orlando Faccini Neto observou que ele não é obrigado a responder às inquirições e que tem o recurso de permanecer em silêncio. Mesmo assim, Kiko optou por falar. Ele contou que nasceu na cidade de Santa Rosa e que só conheceu o pai quando tinha 12 anos de idade.
“Às vezes é levado isso e não levam em conta que meu pai tenha a família dele e eu tinha a minha com minha irmã e mãe. Tenho uma relação, como vou dizer?, não somos inimigos, mas ele tem a família dele e eu tenho a minha.” disse.
Kiko disse que se aproximou da administração da boate como uma oportunidade de negócios e também como forma de expor a sua banda. Ele informou que comprou a sociedade por R$ 15 mil reais mais um veículo.
Após lembrar do início das atividades e o sucesso que a casa noturna nas quintas-feiras, ele se emocionou. “Foi lindo, uma maravilha, tudo perfeito”, descreve.
Já, ao ser questionado sobre a contratação da Gurizada Fandangueira, Kiko diz que não sabia que a banda usava artefatos pirotécnicos em shows.
Dia 27 de janeiro de 2013
O proprietário recordou como foi o dia anterior e da tragédia. De acordo com ele, foi à casa noturna durante a tarde para acompanhar os trabalhos internos e passagens de som e, à noite, foi jantar com a esposa em um restaurante.
Ele chegou na Kiss depois da 1h40, depois do show da banda Pimenta e seus Comparsas para conversar sobre a promoção do grupo. Um pouco depois, deixou a casa para levar um cliente que estaria embriagado para a rua. Quando retornou, viu o desespero das pessoas correndo na direção oposta.
“Nesse momento vem um monte de gente e me prensa contra um táxi. O Baby [segurança] caiu por cima de mim, as pessoas gritavam para o táxi sair”.
Na sequência, Kiko diz que o tumulto aumentou. Ele acreditava que, com a chegada dos bombeiros, a situação melhoraria, mas a percepção de que a proporção do incêndio era maior fez com que tentasse fazer aberturas com as mãos nas paredes.
“Não posso precisar quanto tempo, mas fiquei até a Vanessa chegar. Ela veio com os braços abertos, pensei que ia dar um abraço, e ela me deu um tapa. ‘Kiko, Kiko, e a minha irmã? ” Alguém me botou para dentro de um carro, ia me levar para dentro de casa e eu disse para me levar para a delegacia. Me apresentei e disse: ‘tá pegando fogo na boate, tá morrendo gente’. Apavorado, sem camisa’, descreveu, aos prantos.
O depoimento seguiu com gritos de desespero! “Mandaram mensagem mandando eu me matar.” E eu ia me matar mesmo, eu ia me matar pra não ficar nesta situação! Finaliza.
“Querem me prender, me prendam! To cansado. Perdi um monte de amigos. Não é fingimento, eu não aguento mais”, disse. “Vocês acham que é fácil. Não é fácil”.