Caso Kiss: depoimentos sugerem que eram comuns shows pirotécnicos na boate
O julgamento das quatro pessoas denunciadas pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) por 242 homicídios com dolo eventual na tragédia da boate Kiss chegou ao quarto dia com 13 testemunhas e sobreviventes ouvidos desde quarta-feira. Os réus são Elissandro Callegaro Spohr e Mauro Londero Hoffmann, sócios da Kiss, e Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Bonilha Leão, da banda Gurizada Fandangueira.
Neste sábado, 4 de dezembro, os depoentes foram o produtor de eventos Alexandre Marques, testemunha de uma das defesas, e os sobreviventes Maike Ariel dos Santos e Cristiane dos Santos Clavé, arroladas pela assistência de acusação.
Pelo MPRS, quem começou a fazer perguntas a Marques foi a promotora de Justiça Lúcia Helena Callegari. Ela mostrou fotografia de uma festa onde eram usados artefatos pirotécnicos e o depoente reconheceu como sendo na Kiss. Na sequência, Lúcia exibiu mais vídeos com artefatos pirotécnicos acesos dentro da casa noturna, também com a confirmação de que se tratava da boate, o que vem ao encontro das provas processuais: de que esse tipo de evento ocorria com frequência.
Questionado pelo promotor de Justiça David Medina da Silva sobre quantas saídas de emergências havia na boate, o depoente afirmou: “havia a porta principal”, encerrando as perguntas do MP.
Já Maike falou que durante o incêndio, “achava” que estava indo para a saída da casa noturna. Mas, devido à escuridão, não sabia ao certo. Disse que desmaiou dentro da Kiss e foi socorrido. A pedido do promotor, demonstrou o tempo que demorou pra chegar à porta da boate na noite do fato. Repetiu que estava esmagado entre as pessoas e que se tivesse orientação luminosa, a fuga seria mais ágil. Também revelou que nenhum dos réus o ajudou no tratamento de saúde ou lhe procurou.
O último depoimento deste sábado foi da vítima Cristiane dos Santos Clavé. Ela disse que não iria à festa daquela noite, porém, foi convencida por um amigo. Relatou que, assim que teve início o show da banda Gurizada Fandangueira, foram disparados sinalizadores nas laterais que a fizeram ficar sem ar.
Por meio da reprodução em 3D apresentada pelo Ministério Público, a sobrevivente mostrou onde estava no momento em que o fogo começou. Cristiane retornava do banheiro e ainda tentou localizar o amigo, sem sucesso. Em seguida, viu um músico com a mão para cima segurando o artefato. A vítima disse que, na tentativa de sair da boate, chegou a levantar amigas que estavam caídas no chão e repetiu mais de uma vez que só conseguiu escapar do prédio da Kiss porque já tinha estado lá várias vezes. Ainda, relatou a dor pela perda dos amigos e mostrou os remédios que precisa tomar em decorrência de queimadura no pulmão e das sequelas psicológicas.
Informações MP RS.