Um legado familiar: veranense Ingridi Verardo lança canção em homenagem ao avô e músico, Arlindo

Transformar a dor em arte. O dom dos artistas pode servir para transmitir seus sentimentos por meio de suas expressões. Foi assim com Ingridi Verardo, cantora, musicista, atriz e dançarina, que fez de suas vivências uma verdadeira superação pela arte. Em outubro deste ano, após longos meses de trabalho, ela lançou a canção “Arlindo’s Song”, em homenagem à vida e memória de seu avô, Arlindo Verardo.

A história de Ingridi na arte começa ainda cedo. Sempre foi uma criança artista, que gostava de se produzir e ensaiar. Ela conta que desde sempre acordava com o avô tocando seus instrumentos na sala de ensaio. Quando levantava e ele não estava perto, ela inventava alguma desculpa para procurá-lo.

Arlindo sempre levava Ingridi para todos os lugares que ia, o que estreitou seus laços de avô e neta, tornando-os ainda mais próximos. Ele foi sua figura paterna, que lhe ensinava, acompanhava e prestigiava, desde as apresentações de escola até seus primeiros passos na arte.

A jovem sempre se sentiu incluída na arte através da dança e do teatro, mas a música estava um pouco mais distante. Apesar disso, aos 12 anos, em 2006, montou a primeira banda, cover da banda RBD, e se apresentou em um salão de festas para o público. Na ocasião, Arlindo montou todo o palco, cedeu equipamentos e incentivou do início ao fim, sem ganhar nada, apenas pelo prazer de vê-la feliz. Foi naquele momento que Ingridi teve a percepção de que tinha um espaço na música.

Em 2006, depois de participar de um concurso com sua banda, ela ganhou algumas aulas de canto gratuitas. Na mesma época, nos primeiros dias de ensino médio, uma professora pediu para que ela cantasse e, após ouvir, disse “tu não tem voz pra cantar”. Assim, as inseguranças de Ingridi venceram sua coragem, fazendo com que ela parasse de cantar. Apesar disso, o avô sempre a incentivava, obtendo como resposta da neta “não, tu é músico, tu sabe o que é bonito e eu não canto bonito”. Após alguns anos, ela entrou na Companhia Teatral Tem Gente no Palco e no Coro Municipal de Veranópolis, onde começou a ter mais abertura na área.

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Na faculdade, optou por cursar música. Sempre com o apoio do avô foi criando seus projetos e se descobrindo no universo artístico. Mas em 2017, um problema já familiar voltou a aparecer na vida da jovem.

Arlindo, em 2005, enfrentou um câncer. Foi um baque para toda a família. “Ele sempre se mostrou muito forte, tinha muita vontade de viver”, relembra Ingridi. Em 2017, ela descobriu um câncer, colocando um novo desafio em sua vida. “O que me ajudava era pensar ‘se meu vô conseguiu, eu também consigo’ “, conta. Muitas de suas músicas autorais foram escritas no hospital, em meio ao tratamento. Após as sessões de quimioterapia, ela não conseguia cantar, o que a desanimava, mas que nunca a fez desistir pelo apoio recebido de toda a família.

Mas em 2019, o câncer do avô retornou, e nessa ocasião, ele não conseguiu vencê-lo. “Eu sabia que a imagem de guerreiro ainda estava lá, mas tinha uma parte dele que já estava desistindo. Eu queria muito ajudar a manter ele querendo viver, mas não estava encontrando formas para isso”, relembra Ingridi, emocionada. No dia da morte, Arlindo esperou Ingridi chegar para dizer ‘eu te amo’ pela última vez. Minutos após ver a neta, Arlindo faleceu, em dezembro de 2019.

A composição da música, por fim, começou em fevereiro de 2020. Para Ingridi, foi um processo bastante complicado. A cada vez que se conectava mais com o sentimento e com suas realidades, tornava-se impossível conter as lágrimas. Por isso, foi necessário contar com a ajuda de amigos na composição e revisão da melodia e letra.

O “start” para a melodia se deu a partir de um momento de profunda tristeza vivenciado pela artista, onde, no banho, repetiu diversas vezes o trecho “now is time to sleep, my mom is out and you are telling me stories so I can laugh and sleep” (agora é hora de dormir, minha mãe saiu e você está me contando histórias para rir e dormir), como forma de se acalmar.

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O clipe é ambientado na sala de ensaio de Arlindo, com alguns elementos que faziam parte de seu dia a dia como músico. Ingridi usa uma camiseta da banda Os Dominantes, a primeira banda dele.

Para concretizar a música em homenagem à sua memória, a jovem precisou quebrar várias barreiras e superar inúmeros desafios pessoais para isso. Hoje, Ingridi acredita que fez um trabalho repleto de memória e carinho, que pode alcançar todas as pessoas através desse sentimento, em uma relação singular com seu avô, incomparável com os outros filhos e netos.

O trabalho de Arlindo sempre tocou a comunidade veranense de forma muito especial. Ingridi admira e honra seu legado, buscando eternizar e seguir seus passos. “Quando ele começou não tinha muito incentivo. Viveu da música, de sua paixão, e conseguiu retribuir pra comunidade. Olhar no espelho e ver um pouquinho do reflexo dele é um orgulho imenso. Só de pensar que sou neta dele sinto que posso manter essa herança viva”, conta Ingridi.

“Meu avô significava tudo pra mim e com a partida dele a música e o vídeo foram a única forma de expressar a dor, o amor e a admiração por ele”, encerra.

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