Ao longo de seus 70 anos de vida, Gilberto Antonio Generosi vivenciou diversos momentos desafiadores, principalmente em relação ao seu empreendimento e ao Veranópolis Esporte Clube, do qual é presidente há 21 anos. Dentre todas as “pedras” que já apareceram em seu caminho, em maio de 2021, ele viu a sua frente a maior delas: a covid-19. Ao contrair o vírus e vivenciar seu quadro mais agravado, o senhor percebeu a fragilidade da vida e, hoje, vê o mundo com outros olhos.
Do resultado positivo à UTI
Após terminar seu esquema vacinal contra a covid-19, no final de abril, Gilberto começou a sentir um leve desconforto em sua garganta. Ao fazer um teste, constatou que portava o vírus. Após o susto, teve início o isolamento e recuperação. O senhor cumpriu à risca as recomendações médicas, evoluindo bem e respondendo de forma adequada ao tratamento.
No dia 1º de maio, recebeu alta de seu isolamento. Em um sábado de tempo firme, Generosi pôde novamente ir para a área externa de sua residência, ver o sol e ficar próximo aos familiares. Os momentos de alegria, porém, duraram pouco. Na noite da data referida, Gilberto passou por forte febre e sentia severa dificuldade para respirar. A partir disso, foi encaminhado ao Hospital São Peregrino Lazziozi. Ali começava a trajetória que marca, até hoje, profundamente o senhor.
Após ter contínuo agravamento e comprometimento do pulmão, a equipe médica optou por encaminhá-lo a um hospital de alta complexidade, em Farroupilha, local onde ele poderia ter um atendimento adequado. Não houve necessidade de intubá-lo. Apesar da resistência do próprio paciente, ele foi encaminhado com sucesso. Era dia 05 de maio quando a transferência foi feita e após quatro dias Gilberto havia deixado o HCSPL para enfrentar uma nova jornada.
Em Farroupilha, viu cenas e vivenciou experiências que nunca sairão de sua memória. Entre os cerca de 20 colegas de quarto, Gilberto era o único consciente, visto que não estava sob ventilação mecânica. Acordado, via que o paciente ao seu lado ou a sua frente era sempre uma pessoa diferente, visto que o colega anterior havia falecido. Junto a essas cenas somaram-se a angústia e o medo de nunca mais ver os familiares.
Após cerca de 10 dias, os momentos de horror poderiam, enfim, ser deixados para trás, porque era hora de voltar para casa. Por responder bem aos tratamentos, Gilberto recebeu alta. Junto a ela, ganhou “mais uma chance” de poder ver sua neta crescendo e sua família se desenvolvendo, como pediu de forma expressiva e com muita fé para Santa Rita de Cássia em sua orações.
O emocional
Apesar da recuperação ser demorada e difícil, visto a forma como a doença acomete o indivíduo, hoje, Generosi encontra-se bem fisicamente e consegue desenvolver suas atividades normalmente. As feridas emocionais, porém, demoram mais para cicatrizar. Gilberto afirma que o medo que sentiu e as imagens que viu na UTI demorarão para sair de sua memória.
– Eu sabia que eu não estava tão grave, mas a gente escuta na rádio que são registradas duas mil mortes por dia e eu estaria naquele número, eu tinha tudo para estar naquele número. E aí a gente começa a pensar, “e a minha neta?” eu preciso ver ela crescer! […] Essa parte pegou e hoje eu te digo, ainda tenho esse problema – afirma.
Uma nova forma de ver a vida
“A minha preocupação, agora, é com a minha vida”, frisa de forma contundente, Generosi. Após ter vivido anos dedicados ao trabalho, hoje ele percebe que a vida é perecível e que é necessário vivê-la em todos os sentidos, intensamente. Seu objetivo, agora, é viajar, desfrutar das vivências, curtir a família e ver a sua neta crescer.
Além disso, afirma que este será o seu último ano à frente do VEC, clube pelo qual ele possui muito carinho e será uma ocupação importante neste momento particular de recuperação emocional. Ele conta que quer ver os jogos da arquibancada, torcer pelo pentacolor como os demais veranenses e acredita que contribuiu com o clube durante essas duas décadas, sendo a hora de deixar a presidência para novas lideranças.
Apesar de ser o mesmo Gilberto Antonio Generosi de antes da covid-19, hoje, ele vê a vida de forma mais leve. Dos dias mais críticos a recuperação, para ele, agora, a vida possui outro significado, baseado na família e nas vivências.