Caso Bernardo | Terceira testemunha foi ouvida nesta manhã

Na manhã desta terça-feira, foi ouvida a terceira testemunha indicada pelo Ministério Público. Juçara Petry respondeu aos questionamentos da acusação e das defesas sem a presença dos réus, a pedido dela. A empresária, chamada carinhosamente por Bernardo de “tia Ju”, era considerada a figura materna dele. Era ela a homenageada pelo menino órfão no Dia das Mães. E era na casa dela que a criança costumava ficar com frequencia. “Pra nós, ele era como um filho”, afirmou. “Uma vez, cobrei que ele tinha errado a tabuada do três. Aí confessou que tinha errado de propósito porque senão o tio Carlinhos não ia mais ensinar ele. Isso doeu muito”, contou, chorando, a testemunha. “Bernardo era um menino franzino, meigo, honesto. Bernardo era uma pessoa do bem”, definiu a empresária de 58 anos.

As oitivas seguem durante a tarde, a partir das 13 horas. O MP, autor da ação, ainda ouvirá mais duas testemunhas. A defesa de Leandro Boldrini arrolou 10 testemunhas. Graciele Ugulini, Edelvânia e Evandro Wirganovicz abriram mão de testemunhas. O Júri acontece no Salão do Júri da Comarca de Três Passos e é presidido pela Juíza de Direito Sucilene Engler.

Ida ao Foro

Quando Bernardo comentou que iria ao Foro procurar o Juiz, Juçara disse que nunca imaginou que isso fosse acontecer. Surpresa, ela perguntou o que a criança tinha dito ao magistrado: “Falei tudo”, resumiu ele.
Bernardo chegou feliz depois da audiência e, depois disso, surgiu o assunto de levá-lo a uma benzedeira. “A Kelly (apelido de Graciele) disse que ia levá-lo na benzedeira, que ia ficar tudo bem. Perguntei se ele iria mesmo, e ele respondeu que, se fosse para ficar tudo bem, ele iria”.

Bernardo nunca falava o que acontecia em casa. “Desviava o assunto ou saía correndo”. Na avaliação da testemunha, a situação piorou na casa dos Boldrini depois da audiência.

“Odeio a minha casa”

Bernardo passava muitos dias na casa da família Petry e, quando Juçara falava para ele voltar, o menino respondia: “Odeio a minha casa”. A testemunha disse que evitava saber o que acontecia na casa dos Boldrini, “apenas cuidava de uma criança que estava sem a mãe”. E que incentivava que ele gostasse de casa, mas a criança pedia para morar com Juçara. Ela não cogitou a hipótese porque o menino tinha parentes. O Conselho Tutelar chegou a citar que o menino poderia ir para uma casa de passagem, caso a situação de Bernardo em casa não melhorasse. “Aí eu disse que, então, eu ficaria com ele, se fosse para isso acontecer”.

Certa vez, o menino comentou sobre um cartão de Natal com a família, sem ele. “Eu odeio isso. Por que não estou junto?” Para ela, o garoto não se sentia “acolhido” em casa. A empresária descreveu Bernardo como uma criança tranquila, que em nada se parecia com o temperamento agressivo mostrado nos vídeos em que aparece brigando com o pai e a madrasta.

Raras vezes ele carregava as chaves de casa quando ia para a casa da testemunha. Já o controle remoto, a madrasta pegava o dele para ela. Carlos, marido da testemunha, chegou a comprar um celular para poder se comunicar com a criança, já que, muitas vezes, eles não conseguiam encontrar Bernardo, que circulava por várias casas.

Roupas e objetos

As roupas usadas por Bernardo, quase sempre eram dadas pela testemunha. Muitas, eram da própria Juçara que já tinha em casa objetos de uso pessoal, como escova de dentes e toalhas, para o menino utilizar. Certa vez, Bernardo machucou a boca com o aparelho dental e que Juçara procurou a família para resolver o problema. “Leandro não atendia o telefone. Procurei a Kelly (apelido de Graciele) e ela reclamou dizendo que ‘esse guri só incomodava, era um estorvo e que era para deixar a boca estourar”.

A criança não escolhia comida, dificilmente recusava algo.

“Bernardo procurava Deus”

A testemunha explicou que o menino Bernardo gostava de estar na igreja. “Certa vez o padre me disse que Bernardo procurava Deus.” No dia da primeira Comunhão, a criança estava triste porque não teria a presença do pai nem comemoração. Pensou em desistir, mas Juçara e a família o incentivaram a prosseguir. Ela comprou a roupa para que para que o menino usasse no dia e também comemoraram na casa dela, com um churrasco.

Desaparecimento

A primeira suspeita de Juçara quando Bernardo desapareceu, foi que ele havia fugido. “Toda a comunidade se mobilizou. O que nos chocou foi ver o pessoal sujo de barro para procurar Bernardo e saber que o pai e a madrasta foram para a Argentina fazer compras.”

A defesa de Leandro Boldrini destacou ligações entre pai e filho, para demonstrar que os dois se falavam, ao contrário do que a testemunha afirmou. E que, quando o menino desapareceu, o médico tentou falar com Juçara, mas o telefone dela estava desligado.

Relacionamento com a madrasta

A defesa de Graciele afirmou que ela é ré confessa, que levou o menino para Frederico Westphalen, ministrou medicação nele, mas também ele se automedicou. Perguntou novamente se Juçara sabia o que acontecia dentro da casa de Boldrini, e ela reiterou que não. E esclareceu que nunca visitou a casa de Leandro, nem quando ele era casado com Odilaine. O Advogado perguntou se Bernardo já exalou sentimento de ódio por alguma pessoa, ela respondeu negativamente. Quanto ao acesso à alimentação, que a testemunha aponta que Bernardo não tinha, afirmou que as declarações se baseiam no que Bernardo contava para ela.

Sobre o relacionamento com a madrasta, a testemunha disse que Bernardo não dava detalhes, mas que “não se encaixava”. Já sobre Leandro, ele sempre dizia que o pai salvava vidas.

Com informações do MP RS.

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