No quinto dia de julgamento, o Júri dos réus acusados de matar o menino Bernardo Boldrini se encaminha para a sua fase final. Na manhã desta sexta-feira acusação e defesas tiveram a chance de reforçar seus últimos argumentos para os sete jurados que integram o Conselho de Sentença.
Eles estão reunidos para votar e, ao final, a Juíza Sucilene Engler anunciará o resultado do julgamento.
Leandro Boldrini, Graciele Ugulini, Edelvânia Wirganovicz e Evandro Wirganovicz respondem pelos crimes de homicídio quadruplamente qualificado, ocultação de cadáver e falsidade ideológica (esse último só Leandro).
RÉPLICA
Para reforçar a acusação, o Ministério Público apresentou trechos de conversas interceptadas dos suspeitos, laudos e os vídeos gravados por Leandro e Graciele discutindo com Bernardo. “Eles calaram a voz dele. Mas estamos aqui hoje representando Bernardo. Hoje ele grita por justiça, justiça, justiça ¿, exclamou o Promotor Bruno Bonamente ao pedir a condenação dos quatro réus.
Em um deles, tenta provar que Evandro Wirganovicz não estava em férias nem de licença-paternidade na data em que a cova foi aberta e que, por isso, não poderia estar pescando. “O que ele fazia na propriedade da mãe dele quando deveria estar trabalhando”, questionou Vieira.
A seguir, apresentou trecho de uma conversa entre Graciele e Edelvânia, após o crime. Para ele, as duas creem na impunidade e debocham da situação. Elas comentam sobre as buscas ao menino, a naturalidade como falam. “Essa é a moça constrangida por Graciele.” Na sequência, o MP mostrou outro áudio, onde elas narram o que teria acontecido no dia em que Bernardo esteve com elas em Frederico Westphalen, última vez em que o menino foi visto com vida. Neste momento, estariam combinando álibis.
Em conversa com outra amiga, a mulher pergunta se Graciele estava rezando e a madrasta respondeu que não tinha tempo nem de se coçar e já havia perdido quatro quilos. “Eu disse pro Leandro, mandar esse povo todo se f…ir embora daqui e deixar que morram. Chega a me dar ânsia de vômito olhar para o povo desta cidade.”
Uma ligação do padrinho de Bernardo para o celular de Leandro, no dia 11 de abril de 2014, onde o homem pergunta se a Keli realmente voltou com a criança da cidade vizinha. No viva-voz, ele questiona a madrasta. “Como certeza eu trouxe ele de volta”, respondeu ela. “Tu tem culpa no cartório”, acusou o padrinho de Bernardo.
O MP também defende que Leandro dava medicação de uso controlado e contínuo para Bernardo. “Dopava o filho.” E enfatizou o descaso do médico com o menino. “De 1º de janeiro a 4 de abril (2014), Leandro falou 24 vezes com Bernardo pelo telefone. Esse é o pai zeloso, atencioso, que tem a petulância de vir com aquela camiseta”, criticou Vieira, se referindo à roupa usada por Leandro nesta sexta. Na camiseta, há dois pés pintados, com os dizeres Pai, eu sigo os seus passos e assinatura de Maria Valentina, a filho dele com Graciele.
O MP também leu trechos do laudo de psiquiatria que afirma que Leandro tem traços claros de psicopatia. “Leandro, Graciele e Edelvania são psicopatas. Eu não digo o mesmo de Evandro. Ele proporcionou a morte de Bernardo e a ocultação do cadáver.”
TRÉPLICA
Leandro Boldrini
O Advogado Rodrigo Grecellé fez as considerações finais na defesa de Leandro Boldrini. Defendeu que houve erro na conclusão das investigações da Polícia Civil. Afirmou que Leandro sempre quis ser julgado em Três Passos. “Vossas Excelências sabem quem é Leandro Boldrini. Suas qualidades e defesas.”
Destacou a trajetória do médico. “Um psicopata que, desde 2003, salva vidas de pessoas que vocês conhecem”. Grecellé ainda reforçou que Leandro não sabia das intenções de Graciele, e muito menos do crime.
Em nenhum momento Leandro quis abrir mão do filho. Também não precisaria se preocupar com a herança deixada de Odilaine, uma vez que era um médico bem-sucedido. “O mais requisitado da região.” Ao final, a defesa colocou o réu de pé em frente ao júri e os advogados se abraçaram a ele.
Graciele Ugulini
O Advogado Vanderlei Pompeo de Mattos reiterou que Graciele é ré confessa. Ela concorda que tinha problema de relacionamento com Bernardo, mas não teve intenção de matar (homicídio passaria de doloso para culposo).
Afastou as qualificadoras do motivo torpe e do motivo fútil, mas admitiu o uso de veneno e da dissimulação. Defendeu a semi-imputabilidade da ré.
“Não estamos defendendo assassinos em série, líderes de facção. Estou defendendo aquela guria de Santo Augusto. Se tiver que pagar, que seja o que deve. Não com penas bárbaras”, disse Pompeo.
“Estou pedindo uma análise sã, não contaminada. Para atirar pedras, temos muitos. Temos vingadores de plantão que querem nos crucificar, quando tropeçamos na vida, como fizeram com Jesus Cristo.”
Edelvânia Wirganovicz
Pela defesa da Assistente Social Edelvânia Wirganovicz atuaram os advogados Gustavo Nagelstein e Jean Severo. Em síntese, pediram a absolvição dela pelo crime de homicídio e apenas participação na ocultação de cadáver. A defesa da ré também criticou a denúncia do MP, que teria provas frágeis em relação à acusada, apenas “sinais de fumaça como prova”.
No entendimento da defesa, Edelvânia deve ser julgada apenas por ocultação de cadáver. “Absolvição no homicídio ou uma das teses da defesa (negativa de participação, coação irresistível e participação em crime menos grave). E também que absolvam Evandro. “Deem uma oportunidade a esta mulher que não tem ninguém na vida”, destacou Severo.
Evandro Wirganovicz
O Advogado Luís Geraldo Gomes dos Santos defendeu Evandro Wirganovicz. Reforçou o que disse no dia anterior, de que a acusação é feita com base no “achômetro”. “A acusação se resume: ele estava ou não de férias? E se deixa de lado todo elemento probatório, que inexiste no processo.”
A defesa apresentou ainda carta escrita por ela, dirigida ao Juízo de Três Passos, onde isentou Evandro da participação no crime. “Essa mulher vai cumprir duas penas: a do crime que ela cometeu e a do que ela fez para o irmão.”
Para Santos, a Assistente Social teria retornado ao local onde foi enterrado o corpo de Bernardo no dia 3 de abril de 2014 (véspera do crime). Uma testemunha viu o carro dela estacionado próximo dali. “Ela volta lá sozinha.” O depoimento do frentista que trabalhava no posto localizado ao lado do prédio onde Edelvânia morava aponta que ele a viu lavando o carro lá e que o veículo estava embarrado. “Ela comentou com o depoente que teria ido na casa da mãe dela plantar flor. Recorda o depoente que ela estava suja. E sozinha.”
“Coloquem ele cavando aquele buraco. Isto nunca existiu”, afirmou o defensor, pedindo a absolvição do réu.
Após o intervalo, os jurados retornam para iniciar a iniciar a votação. Quando finalizado, a juíza anunciará o resultado do julgamento, proferindo a sentença.