Convidado por engano para participar de grupos de WhatsApp sobre caça, um ambientalista arquivou, durante um ano, uma série de mensagens, fotos e vídeos que comprovam a prática de caça ilegal de diversas espécies no Rio Grande do Sul, as informações são do Portal G1 e da RBS TV.
Os nomes dos grupos sugerem troca de mensagens sobre caça de javali, animal que invade plantações e causa prejuízos para agricultores e que, por isso, tem seu abate autorizado pelo Ibama desde 2013. Mas o material compartilhado mostra o abuso da autorização para o transporte das armas e a matança de espécies nativas. Veados, tamanduás, mão-peladas, quatis e tatus estão entre os alvos mais frequentes dos caçadores.
“Tem muito caçador legalizado para caça do javali que, na verdade, não caça javali. Eles caçam a fauna silvestre e ainda exibem como se fosse uma brincadeira, uma diversão matar os animais”, denuncia o ambientalista.
A legalização do abate do javali, que dá direito ao transporte de armas de caça, passou a valer em 2013 em todo país, mas no Rio Grande do Sul a caça do animal é autorizada desde 2005. Nos grupos, os participantes enviam fotos e vídeos das documentações e até dão dicas de como se deve encaminhar a solicitação do registo no Exército e no Ibama.
De acordo com o Ibama, no Brasil são 32,1 mil caçadores registrados. O número, porém, não bate com o informado pelo Exército, que chega a quase 70 mil. O estado com maior número de caçadores é o Rio Grande do Sul. Para conseguir a documentação, é preciso fazer um teste de tiro e passar por um exame psicológico.
O coordenador de biodiversidade do Ibama, João Pessoa Moreira Junior, acredita que os crimes ambientais sejam cometidos por uma minoria. “Não é porque hoje o manejo do javali está autorizado que a caça ilegal está acontecendo, ela sempre aconteceu”, afirma.
No Rio Grande do Sul, o Ibama conta com 100 servidores, número que, de acordo com o próprio coordenador de biodiversidade do órgão, é insuficiente para dar conta da fiscalização.
Além da caça ilegal, os grupos também eram usados para compra e venda de munição contrabandeada do Uruguai. Armas também eram negociadas informalmente.
Os vídeos compartilhados nos grupos e as gravações feitas pelo ambientalista infiltrado foram entregues ao Ministério Público do RS, que abriu investigação. Nenhum promotor foi indicado pela assessoria de imprensa para dar entrevista sobre o caso. “Meu objetivo é que as autoridades tomem alguma providência”, disse o infiltrado.